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Recém-saído das eleições, país se frustra com atentados terroristas

Mirella D'Elia
postado em 19/07/2009 09:29
Em Bahasa Indonesia, a língua oficial da Indonésia, Bhinneka Tunggal Ika quer dizer unidade na diversidade. A máxima local é a lição que o maior país muçulmano do mundo tenta passar às outras nações. Recém-saída da segunda eleição direta de sua história - que reelegeu o presidente Susilo Bambang Yudhoyono - após mais de três décadas de ditadura, o gigantesco país-arquipélago, com mais de 17 mil ilhas, se esforça para propagar uma mensagem de paz para o mundo, não ficar estigmatizado pelo radicalismo e apagar a imagem negativa de atentados terroristas. Mas frustra-se com ações sangrentas como os ataques aos hotéis Marriott e Ritz-Carlton, que deixou nove mortos. "Essa ação terrorista brutal é um ataque à democracia, à liberdade, e também ao povo indonésio que acaba de finalizar um processo democrático maduro. Tem por objetivo estragar a economia e a imagem positiva da Indonésia, que foram construídas através dos esforços e trabalho duro nos últimos cinco anos", destacou o governo da Indonésia, em nota oficial divulgada na sexta-feira (17/07). Cerca de 80% dos 240 milhões de habitantes são adeptos do islamismo. Além disso, a Indonésia tem mais de 300 grupos étnicos distintos, que falam pelo menos 200 dialetos e línguas diferentes. "Esse é o país em que democracia, modernidade e islamismo caminham de mãos dadas", disse o diretor-geral de Informação e Diplomacia Pública do governo da Indonésia, Andri Hadi. O Correio esteve no país em maio. Ao caminhar pelas ruas da capital Jacarta, na Ilha de Java, onde vivem cerca de 9 milhões de pessoas, foi fácil notar que as mulheres muçulmanas decidem se usam ou não lenços para cobrir suas cabeças. Alguns estabelecimentos baixam as portas entre 12h e 13h, às sextas-feiras, para que os religiosos possam fazer suas preces. Na pacata Manado, na Ilha de Sulawesi, a maioria da população é protestante. A cidade, que tem 417 mil habitantes, é conhecida como a "terra das 1001 igrejas". Já na ilha de Bali, a preferida dos turistas, a maioria é hindu. A cidade exala um suave perfume de incenso e flores, graças às oferendas. Mas também guarda a triste lembrança do atentado de 2002: um memorial com os nomes dos mortos na rua mais badalada do ponto turístico. Mulheres em destaque No cenário da jovem democracia indonésia, país que conquistou a independência em 1945, as mulheres estão, cada vez mais, ocupando papel de destaque. Elas já representam metade do corpo diplomático do país. E estão por toda parte. A ascensão feminina é uma conquista recente no país que ainda sofre com os males de um mercado ilegal de exploração sexual de mulheres. A juventude está confiante nos novos tempos. "As mulheres não têm mais que ficar só em casa hoje em dia", disse a estudante Carmen Domls, de 16 anos. A nova geração de indonésios adora cantar em karaokês, ir ao cinema e praticar esportes. O badminton é o mais popular, mas o futebol também encanta essa gente. A adoração por jogadores brasileiros é tanta que no sudeste asiático a Indonésia ficou conhecida como Little Brazil. Já as mulheres abusam dos produtos para clarear a pele e dificilmente usam biquínis nas praias, por uma questão cultural - elas não se sentem à vontade ao exibir seus corpos. Mas nada atrai tanto o povo quanto fazer compras. Em Jacarta, é possível encontrar artigos de grifes famosas em sofisticados centros comerciais. Ir ao shopping é tratado pelo governo da capital como uma atração turística. E o turista desavisado que não se espante: pode ser parado por estanhos para tirar fotografias - como aconteceu com repórter do Correio. As diferentes tonalidades de pele atraem a atenção dos indonésios. SUSPEITA REFORÇADA Especialistas em terrorismo suspeitam que os ataques em Jacarta foram orquestrados por Noordin Top, um fugitivo da Malásia que lidera uma facção do grupo Jemaah Islamiyah, vinculada a Al-Qaeda. "Eu tenho 200% de certeza que este é um trabalho de Noordin", disse Nasir Abbas, um ex-terrorista que se transformou em informante da polícia. A repórter viajou a convite do governo da Indonésia.

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