postado em 22/07/2009 08:00
Às 10h de hoje (7h em Brasília), a família de Jean Charles de Menezes vai se reunir diante da estação de metrô de Stockwell, em Londres. Em silêncio, Alex Pereira e Vivian Figueiredo ; primos do eletricista mineiro Jean Charles de Menezes ; desvelarão um mosaico de fotos que deve se tornar um memorial permanente em homenagem ao brasileiro confundido com um terrorista e executado com sete tiros na cabeça e um no ombro pela Scotland Yard, a Polícia Metropolitana londrina, exatamente quatro anos atrás.Durante o evento, amigos e parentes lançarão a petição Nunca se esqueça, com a qual pedirão ao prefeito, Boris Johnson, que jamais remova o mosaico do local. Em entrevista ao Correio, Alex contou que ainda acredita na Justiça, mesmo depois de a promotoria britânica decidir inocentar os policiais. ;A justiça um dia virá, isso é certo. Um dia, o gigante cai. Pode levar tempo, mas ele cairá;, prometeu o motoboy, que vive em Londres. Alex revelou que deve levar o caso à Corte Europeia.
Indenização
O primo de Jean Charles contou que ninguém da família recebeu indenização do governo do Reino Unido. ;Pouco dinheiro ou nada seria humilhação; muito dinheiro seria o fim do caso;, disse Alex, ao justificar o motivo de ter pedido à advogada que retirasse seu nome da lista de solicitantes de uma compensação financeira. O rapaz se lembra dos últimos dias de vida do primo. ;O Jean estava bem tranquilo. Na semana da morte, ele havia se encontrado com o Maurício (ex-patrão) e estava feliz porque fariam um trabalho;, comentou. Nem os atentados de 7 de julho em Londres eram motivo de preocupação.
[SAIBAMAIS]O trágico destino de Jean Charles já havia ganhado as telas de cinema ; com o ator Selton Mello no papel do eletricista. Agora, o drama real será encenado nos palcos de Londres. A peça teatral Stockwell, um relato dos eventos de 22 de julho de 2005, estreia hoje e, segundo a rede de TV BBC, se baseia em transcrições do inquérito. ;O que estamos realmente tentando fazer é recriar, momento a momento, o que aconteceu naquele dia ; nos 33 minutos desde o instante em que ele saiu de casa até ser morto;, disse a diretora, Sophie Lifshutz. Maria Otone de Menezes (leia entrevista), mãe do brasileiro assassinado, disse ao Correio que assistiu ao filme Jean Charles duas vezes. ;Ficou um filme um pouco assim sem graça, como se faz uma comida e falta sal;, criticou.
ENTREVISTA
Maria Otone de Menezes
;Nossa dor não vai ter cura nunca;
É uma dor que não tem fim. A ausência permanente do filho, o dissabor da injustiça, o sentimento de impotência. A dona de casa Maria Otone de Menezes, de 64 anos, espera hoje uma chance de ir até a sepultura de Jean Charles de Menezes e depositar flores. Mas depende do único filho vivo, Geovani, para levá-la ao cemitério. ;Ele quer procurar esquecer tudo isso, está muito transtornado com essa vida;, afirma. Em entrevista ao Correio, por telefone, a partir da zona rural de Gonzaga (MG), Maria Otone culpou o juiz pela absolvição dos agentes da Scotland Yard (Polícia Metropolitana) que executaram o eletricista na estação de metrô de Stockwell.
Hoje, completam quatro anos da morte de seu filho. Como está o coração de mãe?
A gente sofre muito, a gente fica muito contrariada e aborrecida, né? Realmente, eles não se culpam. Acham que tudo o que fizeram ;tava; na lei deles lá, ;tava; vigiando o país deles. Eu, como mãe, acho que a justiça não foi feita, não. Para ter justiça, aqueles policial (sic) ali tinham de ser punidos. É muito triste e muito lamentável para mim. Mas não tenho como fazer mais nada. É entregar nas mãos de Deus e esperar a justiça de Deus, né?
A senhora acredita na justiça humana?
Olha; Acredito na justiça humana, não na de Londres; Lá não tem negócio de justiça, não. Eles deveriam ter prendido esses ;policial;, ter feito justiça com eles, porque foi uma barbaridade o que eles fizeram. Lá por duas vezes o juiz defendeu o que pôde. Eu acho que foi o juiz. Eu assisti a tudo e senti uma friagem (sic) muito grande no juiz e vi que ele não ia ficar do nosso lado. Isso eu percebi na hora. Aqui do Brasil não tô sabendo nem o que dizer. Não sei se o Brasil vai torcer para o meu lado. Faltou pulso do governo brasileiro para cobrar uma punição.
Se pudesse estar diante dos assassinos do seu filho, o que diria a eles?
Eu ia falar para eles que eles não foram humanos, né? Não foram justos comigo por nada. Eles deveriam ter feito alguma coisa, né? Mas não fizeram. Eles eram certos porque estavam defendendo o país deles. Eles eram certos porque eram policial (sic). Eles eram certos porque estavam no trabalho deles. Foi isso que eu escutei lá, entendeu?
Ainda dói muito a falta do Jean?
Nossa; Nossa dor não vai ter cura nunca, né? Quando se perde um filho que você ama; Não tem filho errado para uma mãe. O Jean foi um filho muito educado, civilizado, trabalhador, honesto, humilde; Ele sempre me obedeceu. Não tenho nada a reclamar dos meus filhos, Jean e Geovani. (RC)