postado em 24/07/2009 08:43
;Aparentemente, vemos uma calmaria por aqui. Mas pode vir uma noite em que eles entrarão em sua casa e o levarão.; As palavras da hondurenha Gabriela ; ela não quis ser identificada, com medo de represálias ; expressavam bem o clima em Tegucigalpa, às vésperas do anunciado retorno do presidente deposto Manuel Zelaya à capital. Também coincidiam com ;graves violações; dos direitos humanos denunciadas ontem por 15 delegados da Federação Internacional de Direitos Humanos, do Centro pela Justiça e o Direito Internacional, entre outros organismos. ;Nossa missão identificou a existência de graves violações aos direitos humanos ocorridas no país após o golpe de Estado;, afirmou Enrique Santiago, presidente da Federação de Associações de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Espanha.Morador de Tegucigalpa, o empresário Armando Suárez F., de 39 anos, contou ao Correio, pela internet, que o presidente de fato, Roberto Micheletti, impôs um isolamento informativo e manipulador aos cidadãos, o que leva as pessoas a temerem a volta de Zelaya. ;A guerra de tensão coletiva se soma a uma péssima energia sentida aqui. Essa tensão faz com que os moradores considerem que haverá uma batalha entre o bem e o mal;, alerta.
As violações denunciadas pela missão incluem execuções extrajudiciais durante o toque de recolher noturno, pressões sobre a imprensa não ligada ao governo de fato e ;a suspensão dos direitos fundamentais dos hondurenhos;. As vítimas da violência citadas no informe incluem um jornalista, um político esquerdista, um sindicalista e um manifestante pró-Zelaya. Armando garantiu à reportagem que intelectuais, líderes ruralistas e sindicalistas foram capturados. ;Alguns foram soltos, mas de outros nada se sabe;, disse.
Esforço
Numa última tentativa de pôr fim à crise, o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, apresentou na noite de quarta-feira a Declaração de San José. No documento, ele propõe a formação de um ;governo de unidade e reconciliação nacional; encabeçado pelo próprio Zelaya. Consultada pela reportagem, a economista Lesly Sánchez, de 32 anos, moradora de Tegucigalpa, opinou que não pode haver reconciliação nacional se Zelaya seguir com a ideia de instalar uma Assembleia Constituinte.
Até o fechamento desta edição, Zelaya preparava a volta ao país. Em entrevista concedida em Manágua, ele prometeu que cruzaria ainda hoje a fronteira desarmado. ;Irei acompanhado de minha mulher e meus filhos;, disse. O temor de um banho de sangue era claro ontem. Com os policiais em greve, o Exército de Honduras começava a se concentrar na fronteira com a Nicarágua. A polícia nicaraguense reforçou sua presença na região e membros da chamada Resistência se dirigiam à área.
Em Brasília, o chanceler Celso Amorim defendeu o diálogo. ;Não creio que os esforços não deram resultado, eles não foram esgotados, há coisas a fazer;, declarou. Ele lembrou que o Brasil sugeriu que países da região pressionem pelo retorno de Zelaya. ;Os golpistas não têm futuro. Como instituição, não têm futuro. A questão é que eles compreendam isso logo, para evitar uma situação mais grave;, disse. ;A comunidade internacional não será leniente se algo ocorrer com o presidente Zelaya.;
COLABOROU VIVIANE VAZ