Agência France-Presse
postado em 27/07/2009 09:36
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, descartou continuar com as negociações com os golpistas que o tiraram do poder e anunciou que organizará uma frente cívica na cidade de Ocotal, na fronteira com a Nicarágua.
"Não haverá negociações com os golpisas", declarou Zelaya numa coletiva de imprensa em Ocotal, onde está concentrado com dezenas de seguidores.
[SAIBAMAIS]Zelaya agradeceu à solidariedade da comunidade internacional, mas insistiu que a essa demonstração deve ser mais expressiva, especialmente das autoridades do sEstados Unidos.
O presidente deposto havia anunciado que ia a San José participar em uma cúpula meso-americana e também iria a Washington esta semana, mas desistiu de fazê-lo para permanecer na fronteira de seu país com a Nicarágua e dar apoio à frente cívica que está se formando para resistir contra o golpe de Estado em Honduras.
Os partidários de Zelaya entram pela fronteira de Las Manos através das montanhas para evitar os obstáculos e bloqueios militares instalados em Ocotal, e quase todos sofrem com as condições precárias da travessia.
"Há muita gente sofrendo dentro de meu país. Resistimos firmemente 28 dias e não tem havido um minuto de descanso até que os usurpadores saiam", assinalou Zelaya.
A presença de Zelaya na fronteira "não contribui para a reconciliação", lamentou o mediador Oscar Arias neste domingo em entrevista publicada pelo jornal espanhol El Pais.
Entretanto, o dirigente costarriquenho ressaltou que qualquer acordo para uma resolução da crise "passa pelo restabelecimento de Manuel Zelaya no poder" em Honduras.
O governo de Honduras, por sua vez, anunciou em cadeia nacional de rádio e TV no domingo a ampliação a 78 horas consecutivas do toque de recolher na zona de fronteira com a Nicarágua.
Com isto, a região de fronteira do sul de Honduras completará quase três dias completos sob toque de recolher, embora, na prática a medida venha sendo desafiada por seguidores de Zelaya.
O toque de recolher na zona fronteiriça com a Nicarágua, incluindo todo o departamento de El Paraíso, no sul, começou ao meio-dia de sexta-feira passada e agora irá até segunda-feira às 6h locais (9h de Brasília), segundo o anúncio oficial.
O Congresso hondurenho debaterá nesta segunda uma proposta de Arias elogiada pelo regime de fato de Roberto Micheletti e apoiada pelos militares, embora não muito aceita porque visa restituir Zelaya ao poder.
A ambiguidade nas declarações dos militares e do governo de fato poder ser dirigida a atenuar os protestos dos "zelayistas" e dar uma demonstração ao mundo de que um retorno ou não de Zelaya ao poder não depende de alguém em particular e sim da vontade de todos os poderes do Estado.