postado em 02/08/2009 16:15
Teerã - Os ultraconservadores iranianos acusaram os líderes da oposição de traição neste domingo, depois que o líder opositor Mir Hossein Moussavi acusou as autoridades de utilizarem "tortura medieval" para extrair confissões dos reformistas julgados no sábado pelo tribunal revolucionário a portas fechadas.
O ex-presidente reformista Mohamad Khatami também condenou o julgamento dos 100 manifestantes presos nos protestos contra a reeleição do presidente ultraconservador Mahmud Ahmadinejad, afirmando que o tribunal estava agindo contra a Constituição.
Ahmadinejad deve ser empossado para seu segundo mandato na próxima quarta-feira. A poderosa ala ultraconservadora ficou furiosa com as declarações dos dois líderes, acusando-os de tentar incitar uma "revolução de veludo".
[SAIBAMAIS]"Reveladas provas da traição de Moussavi e Khatami" é a manchete deste domingo do jornal ultraconservador Kayhan. "Os líderes da conspiração são pessoas corruptas cujos crimes imperdoáveis incluem a morte de pessoas inocentes e a cooperação com inimigos estrangeiros", afirma a publicação. "Se os principais incentivadores dos distúrbios, que são conhecidos, não forem confrontados, eles continuarão a conspirar", acrescenta.
Um grupo de deputados ultraconservadores anunciaram ter apresentado uma denúncia judicial contra Moussavi, responsabilizando-o pela violência desencadeada no país após a reeleição de Ahmadinejad, informou um parlamentar conservador, citado neste domingo pela agência Fars.
"Esta demanda foi apresentada há algumas semanas pelas ações extremistas do desafortunado candidato do movimento reformista Moussavi. Queremos que a justiça a examine", indicou o deputado conservador Mohammad Taghi Rahbar, membro da comissão judicial do Parlamento iraniano.
Moussavi, no entanto, manteve a postura desafiadora, afirmando que as confissões obtidas dos reformistas julgados no sábado foram extraídas sob tortura.
"As cenas que vimos foram uma preparação desajeitada para o lançamento do décimo governo", afirmou Moussavi em seu site, o Ghalamnews.
"Eles esperam que um tribunal, fraudulento em si, prove que não houve fraude nas eleições", ironizou Moussavi, que se candidatou à presidência e foi oficialmente derrotado por Ahmadinejad nas urnas.
"Do que eles estão tentando convencer as pessoas (...), baseando-se em reportagens de repórteres de quem ninguém jamais ouviu falar e em confissões obviamente obtidas através de torturas medievais?", indaga o líder oposicionista.
Os comentários de Moussavi se referem a alguns dos reformistas julgados no sábado, que declararam arrependimento por sua participação nos protestos contra Ahmadinejad e negaram que as eleições tenham sido fraudadas, como alegam Moussavi e outros líderes da oposição.
O ex-presidente Khatami também denunciou o julgamento.
"Até onde sei, o que aconteceu ontem (sábado) vai contra a Constituição, a lei e os direitos dos cidadãos", declarou Khatami durante uma reunião com dirigentes políticos e deputados, segundo um comunicado divulgado neste domingo por seu gabinete.
Khatamim que presidiu o Irã por dois mandatos até ser sucedido por Ahmadinejad, em 2005, destacou que o tribunal se baseou em "confissões obtidas sob certas condições que não são válidas".
A justiça de Teerã rebateu as críticas da oposição, afirmando que obter "confissões é uma maneira de provar um crime, e nenhum especialista legal jamais questionou isto".