postado em 12/08/2009 08:36
Como antecipado pelo governo brasileiro há uma semana, o presidente deposto de Honduras Manuel Zelaya chegou na noite de ontem a Brasília e foi recebido como "o chefe de Estado que ainda é", inclusive com honras militares. Após desembarcar de um jato executivo Falcon 50 com matrícula venezuelana, ele concedeu entrevista à imprensa na Base Aérea. Zelaya disse esperar que o colega Luiz Inácio Lula da Silva condene o golpe de Estado em seu país como "crime de lesa-humanidade" e convença o norte-americano Barack Obama a intensificar a pressão econômica sobre o governo golpista. O encontro entre Lula e Zelaya deve ocorrer hoje à tarde na sede provisória do Planalto, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Na ocasião, o brasileiro terá a chance de reafirmar, pela primeira vez diante do próprio Zelaya, o apoio para que ele retorne ao posto o quanto antes. O caráter oficial da visita garantido pelo governo brasileiro, no entanto, não será visto do lado da diplomacia hondurenha. Além de o embaixador do país, Victor Manuel Lozano Urbina, ter sido internado com problemas respiratórios no Hospital das Forças Armadas, na véspera da chegada de Zelaya, a representação diplomática alegou não ter recebido "comunicado oficial sobre a viagem".
Em nota antecipando a visita, o Itamaraty lembra que o governo "reitera sua mais veemente condenação ao golpe de 28 de junho" e pede que Zelaya "seja restituído em suas funções de modo incondicional e no mais breve prazo possível". A pressão do Brasil, porém, não se dá apenas na retórica. Nas últimas semanas, o embaixador do país em Tegucigalpa, Brian Michael Fraser Neele, foi chamado de volta a Brasília, de onde não deve sair enquanto o presidente de fato Roberto Micheletti estiver no poder. Além disso, todas as atividades coordenadas pela diplomacia brasileira em Honduras, como cooperações técnicas e intercâmbio de estudantes, estão suspensas.
Para o cientista político da Universidade de São Paulo (USP) Rafael Duarte Villa, o Brasil tem feito o que está a seu alcance para pressionar o governo de Micheletti - o que não significa que será eficaz. "Para Zelaya, a visita será importante porque reforça um apoio forte na região. Mas essa pressão só faria diferença se conseguisse sensibilizar o setor militar. O governo de fato foi colocado ali e depende dos militares", opina Villa. "Quem pode, de fato, exercer uma pressão sobre o setor militar é os Estados Unidos", afirma.
A expectativa é que o encontro com Lula dure uma hora. O governo brasileiro não soube precisar os outros compromissos de Zelaya em Brasília. Na última semana, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) convidou o hondurenho a visitar um acampamento do grupo próximo à capital.