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Afeganistão realiza sua segunda eleição presidencial depois da queda dos talibãs

Agência France-Presse
postado em 13/08/2009 11:05
CABUL - Os cidadãos do Afeganistão são esperados às urnas no próximo dia 20 de agosto, na segunda eleição presidencial de sua história, marcada pelo clima de medo com as ameaças feitas e os constantes ataques realizados pelos rebeldes talibãs. Além da violência, muitos observadores apontam também o medo de fraudes, especialmente em áreas remotas do país. O presidente Hamid Karzai é considerado favorito para a reeleição, mas a campanha agressiva do ex-ministro de Relações Exteriores, Abdullah Abdullah, pode levar a um segundo turno, de acordo com analistas. Cerca de 17 milhões de afegãos são esperadas para comparecer às 7 mil seções de votação, onde serão realizadas simultaneamente as eleições provinciais, sob proteção da polícia e de 300 mil soldados. "Os insurgentes não têm qualquer chance de realizar um grande ataque bem sucedido", afirma o porta-voz do ministério da Defesa, general Mohammad Zahir Azimi. Mas os talibãs ganharam terreno nos últimos três anos e exercem sua influência em quase metade do país, de acordo com observadores. A violência, além disso, se encontra atualmente em níveis recordes desde que as tropas internacionais expulsaram os talibãs do poder no final de 2001. Os rebeldes têm pedido o boicote das eleições, consideradas "uma farsa orquestrada pelos americanos". "Se o governo não puder conter a ameaça dos talibãs, não vou votar", afirma Nasratullah, de 20 anos, um morador da cidade de Kandahar, ao sul. "Hamid Karzai tem feito muito para o país", continua esse vendedor de burcas, mas "tudo acaba ficando em segundo plano quando se trata da insegurança". Karzai venceu as primeiras eleições democráticas do país em 2004, com 55,4% dos votos. Apesar das pesquisas terem demonstrado uma queda dos percentuais de voto do atual presidente, principalmente devido à explosão de violência e do desemprego, Karzai continua sendo favorito, com 40%. Segundo o analista afegão Haroun Mir, "principalmente porque os outros principais candidatos não foram capazes de oferecer uma alternativa real". No total, 41 candidatos, incluindo duas mulheres, concorrem à presidência. Apesar de melhorias no país desde 2001, muitos afegãos se dizem frustrados: bilhões de dólares chegaram através da ajuda internacional, mas a maioria da população ainda não tem eletricidade, as estradas não são pavimentadas, os empregos são escassos e a corrupção é endêmica. Para observadores, se Karzai for eleito, será graças a acordos com os líderes religiosos e étnicos. O atual mandatário já possui o apoio de chefes de guerra de reputação duvidosa, como Mohammad Qasim Fahim, acusado de crimes de guerra, que deve receber a vice-presidência no caso de vitória, bem como temível o líder usbeque Abdul Rashid Dostam. As moedas de troca para os apoios ainda são desconhecidas, mas cargos ministeriais e indicações para governos provinciais são mencionados, em um país ainda muito feudal, conservador e marcado por grupos armados e alianças tribais. "Vendendo tudo desse jeito, isso não é democracia", diz Wadir Safi, professor da Faculdade de Direito e Ciências Políticas de Cabul. "Eles não entendem as implicações do voto", disse o professor, dizendo que algumas pessoas estão vendendo os seus votos por 10 ou 20 dólares.

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