Mundo

Sob a ameaça do Talibã, 17 milhões de cidadãos vão às urnas

postado em 16/08/2009 08:24
Naseer Hussaini tem esperado muito pela próxima quinta-feira ((20/08). Será a oportunidade para esse pashtun ; a etnia predominante do Afeganistão ; fazer o melhor que pode pelo país que ele considera um ;doce lar;. ;Essa votação poderá mudar várias coisas: derrubar o poder das armas, fazer algo de bom pelo povo e pelo país;, afirmou ao Correio, por meio de um software de videoconferência, o morador de Cabul, que votará na escola Abdul Rahman Pazwak, situada no bairro de Rahman, no sudeste da capital. ;Nós poderemos eleger o presidente que quisermos, será um dia bom e a maior parte dos afegãos estará feliz por votar pela segunda vez;, acrescentou.

A 420km ao norte dali, Sayed Walid Mir, funcionário de uma empresa de telefonia celular em Mazar-e-Sharif, acordará bem cedo e caminhará por três minutos até a Escola Primária Sultan Ghiasuddin, para um encontro com a democracia. ;As eleições representam uma grande mudança. Eu posso votar para o candidato cuja agenda agradar a mim;, comemorou. Mas o espectro do passado rondará as urnas nas 7 mil seções de votação, que registrarão a escolha de 17 milhões de afegãos em uma lista de 41 candidatos, incluindo duas mulheres. ;Todos aqui devem tomar cuidado com o Talibã, que pode tentar sabotar o processo;, afirmou Sayed. Um aviso foi dado ontem, quando um extremista suicida detonou um carro-bomba diante do superprotegido QG da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Cabul (leia na página 25).

Segundo Sayed, não existem coisas boas para lembrar do período entre 1996 e 2001, quando a milícia impôs anos de terror ao país. ;Era um regime totalitário, opressivo, que atingia principalmente os não pashtuns;, comentou. Para tentar garantir o mínimo de segurança no dia mais aguardado pelos afegãos, 300 mil soldados e outro contingente de policiais estarão de prontidão.

O vencedor das eleições de quinta-feira terá uma missão indigesta: estabilizar um país ameaçado pelos milicianos, que já se encontram às portas de Cabul. No sul e no leste do país, o Talibã se impõe por meio de atentados suicidas contra prédios do governo e tropas. ;A estratégia do Talibã é infligir o medo profundo nos corações do povo, por meio de atentados;, admitiu à reportagem o analista afegão Abdulhadi Hairan, do Centro para Conflito e Estudos da Paz.

Campanha

Os candidatos favoritos possuem programas bem delineados em relação ao Talibã. Segundo Abdulhadi, o pashtun Hamid Karzai, do clã Popolzai (de Kandahar), tem como slogan de campanha as negociações com o grupo fundamentalista. ;As pessoas sabem que isso é apenas para atrair votos, porque o Talibã só vai negociar se as forças estrangeiras deixarem meu país;, explicou.

Mesmo com um lema de campanha duvidoso, Karzai tem uma série de vantagens sobre seu principal concorrente, o oftalmologista Abdullah Abdullah. ;Os governos provinciais o apoiam e usam os próprios recursos em sua campanha; ele tem obtido o respaldo de senhores da guerra e de ex-líderes da jihad (guerra santa), como o general Abdul Rashid Dostam e o presidente do Senado, Sibghatullah Mujaddedi;, acrescentou Abdulhadi. ;Além disso, Karzai está familiarizado com as etnias e as políticas tribais do país.;

Um componente histórico pesa a favor de Abdullah Abdullah. Filho de pai pashtun e de mãe tadjique, ele foi um aliado do comandante Ahmad Shah Massoud, lendário herói nacional. As pesquisas conferem a Karzai 40% das intenções voto ; margem insuficiente para uma vitória no primeiro turno. ;Ao contrário de Karzai, Abdullah Abdullah e o ex-ministro da Economia Ghani pretendem encontrar novos mecanismos para reverter os ganhos dos insurgentes e formar um painel no qual trabalharão em aliança com a comunidade internacional;, comenta Abdulhadi.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação