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Talibã ameaça eleitores no Afeganistão

Por meio de folhetos, milícia promete cortar dedos ou executar quem exibir fotos de candidatos

postado em 17/08/2009 10:10
É quase impossível reconhecê-los na província de Khost (leste do Afeganistão). Mas eles estão lá e avisam à população que cortarão os dedos manchados de tinta daqueles que saírem para votar na próxima quinta-feira. O exercício da democracia nas áreas controladas pela milícia fundamentalista islâmica Talibã também pode custar-lhes o decepamento das orelhas e do nariz dos eleitores e até a morte. Durante a madrugada de ontem, os extremistas espalharam folhetos ameaçadores nas imediações do vilarejo de Mazghoor. Sultan Ahmad, um professor que vive na Cidade de Khost - capital provincial com cerca de 160 mil habitantes - recebeu na manhã de ontem um telefonema de Mazghoor. Em entrevista ao Correio, ele contou que a ligação era do primo, que participava de uma festa de casamento. "Ele relatou a mim que nas imediações da vila os talibãs lançaram folhetos com a frase: 'Não votem, não preguem fotos de candidatos em suas casas e carros, ou vocês enfrentarão a morte'", disse. [SAIBAMAIS]O sono de Ahmad foi perturbado no meio da noite. "Eu acordei com o barulho de helicópteros e caças", afirmou. Era um recado do presidente afegão, Hamid Karzai, ao Talibã de que as eleições presidenciais e provinciais não serão sabotadas. "Fiquei sabendo que talibãs morreram num ataque nesta noite. A operação ocorreu no distrito de Spera, aqui em Khost, em uma área remota na fronteira com o Paquistão", explicou. Citado pela agência de notícias France-Presse, o governador Hamidullah Qalandarzai declarou que a Operação Trovão 5 foi a 45ª desde o início do mês e objetivo é "limpar as fortalezas dos insurgentes". "A operação foi lançada para a segurança da eleição, com apoio da polícia nacional, da polícia fronteiriça e das forças internacionais. Mais de 30 (talibãs) foram mortos", garantiu o general Mohamad Zahir Azimi, porta-voz do Ministério da Defesa afegão. Mas assegurar a estabilidade será uma tarefa complicada. Segundo Ahmad, os talibãs estão escondidos em meio ao povo. "Hoje, os milicianos estão mais modernos que no ano passado. Já não usam barba comprida, se vestem como gente comum e agem como pessoas normais", comentou o professor. As ameaças dos talibãs podem não ficar no plano da retórica. "Usaremos novas táticas contra os centros de votação. Se alguém ficar ferido nestes locais ou suas imediações, será responsável pelo ocorrido, pois terá sido informado com antecedência", alertou Yusuf Ahmadi, porta-voz do Talibã, em comunicado à AFP. Ele avisou ainda que o grupo "intensificará" suas ações na véspera e no dia da eleição. Na província de Helmand, três soldados britânicos foram mortos na explosão de uma bomba. Em Cabul, o supervisor de alimentos Jaweed Rahimi, de 24 anos, não se intimida. Por meio de um software de videoconferência pela internet, o morador do bairro de Khair Khana (a cerca de 7km do centro) disse à reportagem que a capital estava ontem completamente vazia - um efeito do atentado à bomba no sábado, que matou oito pessoas diante do portão do quartel-general da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "Todos temos medo. A maior parte dos mercados fechou e as estradas estão desertas", relatou Jaweed. Nem por isso ele deixará de sair de casa para votar no oftalmologista Abdullah Abdullah. O motivo: Jaweed acusa o governo de Karzai de condescendência com a corrupção. "O dinheiro vem aos montes para meu país, em sacolas, mas Karzai é um criminoso. O irmão dele é um grande contrabandista. Já Abdullah Abdullah é uma boa pessoa, filho de pashtun e de tadjique, e conhece a situação do Afeganistão", justifica o voto. A expectativa das autoridades eleitorais é que pelo menos 840 das 7 mil seções de votação não abram por causa da insegurança. Sem sexo, sem comida O presidente afegão aprovou uma lei que permite aos homens xiitas negar comida às suas mulheres caso elas se recusem a manter relações sexuais com eles. A mesma legislação estabelece que as mulheres casadas precisam da permissão dos maridos para trabalhar. O texto foi promulgado ontem e é considerado uma manobra política de Hamid Karzai, em troca de apoio dos xiitas conservadores nas eleições. A versão original da lei obrigava as mulheres xiitas a manter relações sexuais com seus maridos no mínimo a cada quatro dias.

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