postado em 18/08/2009 08:28
Enquanto o México, um dos países mais afetados pela crise econômica mundial, ainda sofre os efeitos da turbulência gerada há mais de um ano a partir dos Estados Unidos, o presidente Felipe Calderón já admite que é hora de "acelerar a diversificação comercial", a exemplo do que fez o Brasil. Em um pronunciamento no Itamaraty, ao lado do colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, Calderón assumiu que a "dependência fundamental da economia americana" deixou seu país mais vulnerável à crise e demonstrou a intenção de fortalecer o intercâmbio comercial com a América Latina, em especial com o Brasil. Lula, por sua vez, garantiu que seu governo está empenhado em consolidar um acordo de livre comércio com o México - embora o Mercosul não permita a seus membros esse tipo de tratado com terceiros.
Os dois presidentes concordaram que as trocas bilaterais, que somaram US$ 7,4 bilhões em 2008 - o equivalente 1,9% do total do comércio brasileiro no ano -, podem atingir níveis bem mais altos. "É inconcebível, do ponto de vista econômico, que dois países com PIBs sem muita diferença, com renda per capita mais ou menos igual e que somam 300 milhões de habitantes tenham um fluxo de US$ 7,4 bilhões", afirmou Lula. "A ampliação do comércio gera benefícios para todos. É melhor para o consumidor, que pode escolher melhores produtos por melhores preços. É melhor para os empresários, que podem escolher melhores insumos e ter acesso a outros mercados", completou Calderón.
Para o presidente mexicano, o incentivo ao comércio bilateral ajudaria seu país a enfrentar os efeitos de crises como a gerada nos EUA. "Como disse o presidente Lula, a dependência de uma só região econômica é inadequada para qualquer nação. Por isso é tão importante que o México acelere sua diversificação comercial com diferentes partes do mundo, principalmente a América Latina", disse Calderón. Na mesma linha, Lula afirmou que a crise serviu para mostrar a necessidade de buscar "novos parceiros, enriquecer o leque de produtos e internacionalizar as empresas": "A crise mundial nos deixou um desafio: não só recuperar esses níveis de intercâmbio, mas superá-los, em vista do enorme potencial de duas economias emergentes e altamente dinâmicas".
Encontros
Em sua primeira visita bilateral ao Brasil em dois anos e meio de mandato, Calderón passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, acompanhado pelos ministros de Relações Exteriores, Patricia Espinosa; Energia, Georgina Kessel; e Economia, Gerardo Ruiz Mateos. Na primeira escala, o presidente mexicano se reuniu com empresários dos setores industrial e de biocombustíveis. No Rio, visitou instalações da Petrobras, como o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento, onde assistiu a uma apresentação sobre o pré-sal feita pelo próprio presidente da empresa, Sergio Gabrielli. Em Brasília, assinou acordos de cooperação com o governo brasileiro nas áreas de ciência, tecnologia e promoção do intercâmbio comercial. Lula e Calderón também discutiram temas políticos da região, como a situação em Honduras (1).
O grande interesse, porém, estava mesmo em um amplo acordo de cooperação entre as gigantes petroleiras Petrobras e Pemex, nas áreas de biocombustíveis, refino, petroquímica e gestão. Calderón reafirmou a intenção de que a empresa mexicana "aproveite toda a experiência exitosa da Petrobras". Lula se mostrou favorável à parceria. "Se as duas empresas continuarem, cada uma individualizada fazendo o seu serviço, elas deixarão de ser muito maiores do que poderiam ser se estabelecessem parceria", disse.
1 - CORO PRÓ-ZELAYA
Após um encontro bilateral no Itamaraty, os presidentes de México e Brasil reafirmaram suas posições contra o golpe de Estado em Honduras. Lula colocou a volta de Manuel Zelaya ao poder como "um desafio inadiável" de toda a América Latina. "Precisamos agir com urgência no marco das resoluções da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de nossas convicções democráticas. Não podemos tolerar nem transigir com atentados à ordem constitucional", disse. Já Felipe Calderón, que recebeu Zelaya em seu país pouco antes de o hondurenho vir ao Brasil, lembrou a necessidade de "dar apoio às gestões diplomáticas" que tentam reverter o golpe. "Referendamos as exigências para a restituição da ordem constitucional e o restabelecimento do presidente Manuel Zelaya", afirmou.