Agência France-Presse
postado em 20/08/2009 17:16
WASHINGTON - O ex-chefe do departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos Tom Ridge acaba de lançar um novo livro, no qual acusa altos funcionários do governo do então presidente George W. Bush de pressioná-lo para elevar o "alerta contra o terror" para beneficiar Bush nas eleições de 2004.
O então secretário da Defesa Donald Rumsfeld e o procurador geral John Ashcroft pediram que ele elevasse a escala de cores estabelecida para medir a gravidade de ameaças terroristas, mas Ridge se recusou, de acordo com informações sobre o livro divulgadas por sua editora, a Thomas Dunne Books.
"Depois deste episódio, eu sabia que deveria seguir meus planos de deixar o governo federal e ir para o setor privado", conta Ridge, cujo livro é intitulado "The Test of Our Times: America Under Siege ... And How We Can Be Safe Again" ("O teste de nossa época: os Estados Unidos sob cerco ... E como podemos nos tornar seguros de novo", numa tradução livre).
Alguns críticos de George W. Bush acusam seu governo de usar os alertas de terrorismo para desviar a atenção da impopular guerra no Iraque e minimizar os danos políticos causados por ela, mudando o foco do debate para a "guerra contra o terror", que tinha mais apelo entre os americanos.
Ridge, que já foi governador da Pensilvânia, foi o primeiro secretário do departamento de Segurança Nacional, criado pelo Congresso americano como resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro.
Ele afirma também que o conselheiro de Segurança Nacional de Bush na Casa Branca, Fran Townsend, ligou para seu departamento, pouco antes de um discurso que faria no dia 1º de agosto de 2004, para pedir a Ridge que incluísse na fala uma referência a "medidas defensivas (...) longe de casa" - remetendo claramente à guerra no Iraque.
Neste discurso, Ridge disse que o departamento havia elevado o nível de alerta para ameaças terroristas para a área financeira de Nova York, além do norte de Nova Jersey e a capital, Washington, elogiando a liderança exercida por Bush na luta contra o extremismo.
"Os relatórios que levaram a este alerta foram resultado de operações militares e de inteligência ofensivas no exterior, assim como de fortes laços com nossos aliados em todo o mundo, como o Paquistão", indicou Ridge na época.
"Estas operações e alianças nos deram uma visão interna do inimigo, para que pudéssemos então ter alvos mais claros em nossas medidas de defesa aqui e longe de casa", declarou.
Mais tarde, o próprio Ridge admitiu publicamente que a maior parte da informação na qual o novo alerta era baseado havia sido aferida três anos antes, o que deu nova força aos críticos que denunciavam uma manipulação política do alerta por parte do governo Bush.
No livro, Ridge também fala de sua frustração depois que a Casa Branca rejeitou sua sugestão de estabelecer escritórios do departamento de Segurança Nacional nas principais cidades americanas, como Nova York, Los Angeles, Chicago, Washington e - bem antes do furacão Katrina - Nova Orleans.
Além disso, ele afirma ter sido deliberadamente excluído durante as reuniões matinais com Bush, porque o FBI estava escondendo informações dele, e diz jamais ter sido convidado para as reuniões do Conselho de Segurança Nacional.