Agência France-Presse
postado em 21/08/2009 12:54
WASHINGTON - A Casa Branca advertiu nesta sexta-feira (21/8) à Líbia que está enviando uma "mensagem equivocada" ao mundo ao dar uma recepção de herói a Abdelbaset Ali Mohmet al-Megrahi, condenado na Grã-Bretanha pelo atentado de Lockerbie e libertado na quinta-feira pela justiça escocesa devido a um câncer em fase terminal."É perturbador ver as imagens que sugerem que a Megrahi teve uma recepção de herói ao invés de ser tratado como um assassino condenado", afirmou o porta-voz da presidência americana, Bill Burton. "Tal como comunicamos ao governo líbio, semelhante boas-vindas envia uma mensagem equivocada, e é profundamente ofensiva para as famílias das pessoas que morreram no atentado de Lockerbie", acrescentou.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, por sua vez, chegou a escrever ao líder líbio, Muamar Kadafi, para pedir que seu país agisse "com sensibilidade" ao receber o réu libertado. "A carta deixava claro que a libertação foi uma decisão do governo escocês e pedia aos líbios que agissem com sensibilidad em seu retorno", declarou à AFP uma porta-voz do gabinete do primeiro-ministro britânico, que não precisou se este recebeu uma resposta.
Pouco antes, o ministro das Relações Exteriors britânico, David Milliband, considerou "profundamente ofensiva, profundamente penosa" a festiva recepção dada a Megrahi, principalmente para as famílias das 270 vítimas do pior atentado da história britânica.
A imprensa americana também criticou duramente a decisão da Escócia em libetar Al-Megrahi.
O Wall Street Journal chega a falar de um "segundo Lockerbie" para as famílias das vítimas do atentado ao ver a forma com que o líbio foi recebido festivamente em seu país.
O New York Times destaca que, apesar da veemente oposição dos Estados Unidos, Al-Megrahi foi libertado e voltou a Trípoli, onde foi recebido como um herói, o que foi extremamente ofensivo para os familiares das vítimas de Lockerbie.
Na véspera, o presidente Barack Obama afirmou que a libertação por parte das autoridades escocesas do líbio responsável pelo ataque contra um avião da Panam foi um erro e que ele deveria cumprir prisão domiciliar. "Entramos em contato com o governo escocês indicando nossa objeção e que consideramos a decisão um erro", afirmou Obama, em sua primeira reação à notícia. "Estamos agora em contato com o governo líbio e queremos ter certeza que, se, de fato, essa transferência ocorreu, ele não seja bem-vindo e, ao invés disso, seja colocado sob prisão domiciliar."
Abdelbaset Alí Mohamed Al Megrahi, o único condenado pelo atentado de Lockerbie, foi recebido como herói na quinta-feira ao chegar a Trípoli, após ser libertado por razões humanitárias pelo governo escocês. Vestido com roupa preta, o homem desceu do avião ao lado de Seif Al-Islam, um dos filhos do líder líbio, Muammar Khadafi. Al Megrahi foi recebido por centenas de pessoas, que agitavam bandeiras líbias e escocesas e cantavam o hino nacional.
O líbio cumpria desde 2001 uma sentença de prisão perpétua pelo atentado contra o voo 103 da Pan American que fazia o trajeto entre Londres e Nova York e que explodiu quando sobrevoava a cidade escocesa de Lockerbie, matando 270 pessoas. Megrahi foi condenado pela justiça escocesa em um tribunal especial reunido em Haia.
Em uma declaração lida por seus advogados logo depois que deixou a Grã-Bretanha, Megrahi afirmou estar aliviado por ter sido libertado, mas estimou que "essa provação horrível não terminará com minha volta à Líbia, e talvez nunca termine para mim até eu morra. Talvez minha única libertação seja a morte".
O governo escocês havia recebido em julho um pedido de libertação de Al-Megrahi por razões médicas, após outra solicitação, em maio, para a transferência do condenado à Líbia, com base em um acordo bilateral, um tratado de transferência de prisioneiros entre Líbia e Reino Unido.
Megrahi, que teve o câncer diagnosticado no ano passado, também apresentou um recurso contra sua sentença no começo do ano. Segundo seu advogado, a doença se espalhou para outras partes do corpo e está em fase avançada.
"Nosso sistema judicial exige que se imponha justiça, mas que esteja disponível a compaixão e nossas crenças ditam que se faça justiça, mas que se mostre misericórdia", destacou o ministro da Justiça da Escócia, Kenny MacAskill, ao justificar a decisão.