postado em 25/08/2009 08:00
Para evitar que seu governo cometa os mesmos erros da administração anterior em relação aos suspeitos de terrorismo, o presidente Barack Obama aprovou a criação de uma equipe altamente especializada para realizar os interrogatórios. O Grupo de Interrogatório de Prisioneiros de Alto Valor (HIG, na sigla em inglês) será formado por peritos de diversas agências de inteligência e segurança e se estabelecerá no FBI (polícia federal americana), sob a supervisão do Conselho Nacional de Segurança. A criação da ;equipe de elite; limita as atribuições da Agência Central de Inteligência (CIA) no momento em que o Departamento de Justiça pede a reabertura das investigações sobre vários casos de abuso possivelmente cometidos durante interrogatórios de suspeitos.A atuação do novo grupo responsável pelos interrogatórios ficará restrita ao que está previsto no manual Human Intelligence Collector Operations, do Exército Americano ; nele, o método mais rigoroso é o de isolamento do suspeito, sem comunicação, por até 30 dias. Assim que chegou à Casa Branca, Obama já havia limitado todos os interrogatórios federais às técnicas descritas no manual, mas deixou uma brecha ao criar uma força-tarefa para examinar as situações que poderiam exigir ;outros tipos de abordagem;.
Na época, a decisão gerou polêmica, e, agora, o governo já defende que os métodos previstos na cartilha militar são suficientes. ;As práticas e técnicas do manual são atualmente usadas por imposição da lei e oferecem meios adequados e efetivos de conduzir essas interrogações;, afirmou um alto funcionário do governo, sob condição de anonimato, em teleconferência com jornais dos EUA. Segundo o The Washington Post, foi a força-tarefa criada por Obama, inclusive, que recomendou a elaboração de uma nova unidade de interrogatórios.
Apesar da decisão que limitará mais a prática dos interrogatórios, fontes do governo revelaram que a administração Obama continuará enviando alguns suspeitos de terrorismo a outros países, sob a condição de não sofrerem tortura. A notícia não foi bem recebida entre os grupos de defesa dos direitos humanos. ;É extremamente decepcionante ver que a administração Obama continuará a prática de confiar nas seguranças diplomáticas, que se mostraram completamente ineficazes para prevenir a tortura;, afirmou Amrit Singh, da American Civil Liberties, ao jornal The New York Times, referindo-se a países em que a prática de tortura foi usada em prisioneiros americanos sem o consentimento dos EUA. Um funcionário do governo, porém, garantiu que o Departamento de Estado terá um papel maior agora para impedir que isso ocorra.
Processos
Obama saiu em férias na sexta-feira, mas deixou ao procurador-geral dos EUA, Eric Holder, carta branca para decidir sobre a reabertura das investigações sobre casos de abuso por parte da CIA. Ontem, Holder disse que as informações contidas nos registros ;justificam a abertura de uma investigação;. Em 2004, a própria CIA decidiu que eles não deveriam ser alvos de processos. Agora, o escolhido para tocar as investigações foi o promotor John Durham, que já coordenou a investigação sobre a destruição pela agência de 92 vídeos contendo interrogatórios de prisioneiros.
Entre os casos descritos, está o de Khalid Sheikh Mohammed, suspeito de participação nos ataques de 11 de setembro ; os interrogadores ameaçaram assassinar os filhos dele. Outro abuso relatado é o uso de uma furadeira elétrica e uma arma em interrogatórios a Abd al-Rahim al-Nashiri, acusado pelo ataque contra o destroier USS Cole, em 2000.
; Confira técnicas de interrogatório permitidas pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos
Retirado do manual Human Intelligence Collector Operations (Humint), do Exército norte-americano (Army Field Manual 2 22.3, or FM 2-22.3), estabelecido pelo Departamento de Defesa em setembro de 2006.
O manual permite 19 técnicas de interrogatório, descritas no capítulo 8 do manual como "técnicas de abordagem" para ajudar a estabelecer uma comunicação. São elas:
- Aproximação direta. Perguntas são feitas de maneira direta "enquanto a fonte responde-las usando a verdade".
- Aproximação de incentivo. Dar recompensas reais ou emocionais à fonte; ou remover estímulos negativos.
- Abordagens emocionais se juntam a uma resposta emocional com algum incentivo incluído. São elas:
Amor. "Se a fonte coopera, ele pode ver sua família antes, o fim da guerra, proteger os seus companheiros, ajudar o seu país, ajudar o seu grupo étnico."
Ódio. O interrogador persuade a fonte de que, se ela cooperar, vai prejudicar seus inimigos.
Aumento do medo. Tomando cuidado para não ameaçar ou coagir a fonte, o questionador pode destacar medos justificáveis da pessoa, como avisar que ela pode ser morta caso coopere, a não ser que receba proteção; ou ressaltar medos não-específicos, como perguntar: "Você sabe o que pode acontecer com você aqui?"
Redução do medo. Acalmar a fonte e se mostrar como um "protetor".
Inflar o ego. Elevar a autoestima do questionado por ele passar certas informações.
Diminuir o ego. Usar os pontos fracos da fonte para atacá-la. Para se defender, ela pode fornecer informações úteis.
Inutilidade. O interrogador tenta convencer a fonte de que a resistência é inútil. Essa abordagem geralmente é combinada com outra, como a de amor, para ser eficaz.
- Outras aproximações ; mais adequadas para detentos, já que requerem tempo e recursos.
Nós sabemos de tudo. O interrogador convence a fonte de que "ela é questionada por mera formalidade, pois já se sabe de tudo". Essa abordagem requer uma grande quantidade de informação.
Arquivo e dossiê. O questionador prepara um grande dossiê sobre a fonte e procede como no "Nós sabemos de tudo".
Estabeleça sua identidade. A fonte é informada de que a identificaram como "uma pessoa procurada pelas autoridades, sob graves acusações". Em um esforço para corrigir o erro, a fonte pode fornecer pistas para esclarecer determinado caso.
Repetição. Repetir a mesma pergunta diversas vezes, até que a fonte responda à questão de forma completa.
Fogo rápido. Vários interrogadores fazem uma série de perguntas ao mesmo tempo para que a fonte se confunda, se contradiga e tenha pouco tempo para formular respostas. Depois, ela deve explicar as contradições.
Silêncio. O interrogador não diz nada e fica olhando diretamente para a fonte, que se sentirá incomodada. Depois de um longo tempo, são feitas perguntas importantes.
Mudança de cenário. Ao sair do ambiente formal e conversar sobre temas de interesse com o interrogador, a fonte pode dar informações sem perceber que foi questionada.
- Duas técnicas adicionais que pedem a aprovação do chefe de comando:
Mutt e Jeff. Um interrogador age como se fosse o "malvado", acusando a fonte. Enquanto isso, outro age como se fosse o "bonzinho", mas afirma que o outro questionador pode voltar, caso o interrogado não colabore.
Bandeira falsa. O objetivo é "convencer o detento que os indivíduos de um país diferente dos Estados Unidos o estão interrogando, e fazê-lo cooperar com as forças norte-americanas".
- A técnica final, de separação, The final technique, Separation, é muito mais detalhada que as outras.
"Não pode ser empregada em detentos abrangidos pela Convenção de Genebra relativa ao tratamento dos prisioneiros de guerra." "O objetivo da separação é negar ao prisioneiro a oportunidade de se comunicar com outros detentos." As duas formas de separação:
Separação física, que impede o presidiário de se comunicar. Limitada a 30 dias, mas, se necessário, esse tempo pode ser ampliado ; com a permissão de um general.
Separação temporária de campo. Fazer com que o prisioneiro use "óculos de proteção ou fique de olhos vendados e protetores auriculares" para impedi-lo de se comunicar por até 12 horas, prolongando o choque de captura". Pode-se usar esses recursos durante o transporte do detido.