Agência France-Presse
postado em 25/08/2009 15:55
A abertura de uma investigação para apurar torturas e a violência cometida por alguns agentes da CIA durante interrogatórios antiterroristas foi criticada nesta terça-feira nos Estados Unidos, tanto pela esquerda, que defende o julgamento das autoridades políticas, como pela direita, preocupada em arquivar o dossiê.
"As informações que tenho à disposição justificam a abertura de uma investigação preliminar para verificar se as leis federais foram violadas durante os interrogatórios de alguns presos fora dos Estados Unidos", anunciou na segunda-feira o procurador-geral, Eric Holder.
Holder nomeou o procurador especial John Durham, cuja tarefa se limitará a avaliar se as acusações podem ser mantidas contra os agentes da CIA que excederam as ordens para que conduzissem interrogatórios após os atentados de 11 de Setembro.
A divulgação na segunda-feira de um relatório do inspetor-geral da CIA, datado de 2004, deu aos norte-americanos uma visão mais detalhada sobre o programa de interrogatórios secretos da Central de Inteligência Americana durante o governo de George W. Bush.
Ameaças físicas, simulações de execuções sumárias, estrangulamento até o desmaio: "os agentes (estavam) cientes de que os métodos de interrogatório estavam fora ou além dos limites fixados".
Vários senadores republicanos escreveram para Holder, preocupados com o fato de que a nomeação de um procurador especial "tenha um efeito paralisante sobre o trabalho da comunidade de inteligência".
"Apesar de estarmos seguros de que esta investigação terá um alcance limitado, há um real risco" de que ela "se torne um longo processo, árduo e imprevisível para a inteligência", acrescentam.
No lado oposto, as organizações de defesa dos Direitos Humanos protestam contra a possibilidade de que o campo de investigação se limite aos interrogadores.
A poderosa organização norte-americana de defesa das liberdades civis Aclu, exige "uma investigação completa sobre a tortura de prisioneiros e sobre aqueles que a autorizaram".
Para a Human Rights Watch, "qualquer investigação concentrada nos 'interrogadores solitários' que agiram sem qualquer autorização oficial, sem incluir as autoridades políticas e todo o programa (de interrogatórios) da CIA, perderia a credibilidade".
Para a Anistia Internacional, trata-se de uma "etapa bem-vinda, mas insuficiente".
Vários aliados democratas de Barack Obama no Congresso, embora tenham saudado a medida, pedem também o aumento do campo de investigação.
Eles querem que seja criada uma "comissão independente, além dos segmentos partidários", encarregada de investigar todo o programa de interrogatórios da CIA e de julgar, eventualmente, "aqueles que, no mais alto nível, autorizaram e ordenaram" a tortura.
Nesse contexto, são principalmente os advogados do governo Bush que redigiram notas internas no Departamento de Justiça, oferecendo uma base jurídica à prática da tortura como simulações de afogamentos, que deveriam ser alvo de julgamentos, considera a esquerda norte-americana, que também cita Dick Cheney e até o próprio George W. Bush.