Agência France-Presse
postado em 26/08/2009 13:54
BUENOS AIRES - Os presidentes sul-americanos vão discutir nesta sexta-feira, na cidade argentina de Bariloche, o alcance do acordo que reforça a presença militar americana na Colômbia. O tema vem motivando uma série de atritos que ameaçam de ruptura as relações entre Caracas e Bogotá.
A poucas horas da reunião extraordinária, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, advertiu sobre este rompimento. "Estas setes bases ianques representam uma declaração de guerra contra a revolução bolivariana", disse Chávez na noite de terça-feira.
Além da Venezuela, outros países também se preocupam com o acordo Bogotá-Washington, que permite tropas americanas operarem em sete bases militares do território colombiano. Equador e Bolívia denunciaram ameaças para a soberania e os recursos naturais. O Brasil também deu mostras de que sentiu o peso da iniciativa do presidente colombiano Álvaro Uribe.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse por telefone ao presidente americano, Barack Obama, que há uma sensibilidade muito grande na região com a instalação das bases, conforme transmitiu à imprensa o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim. "É preciso dar garantias de que tanto o equipamento quanto o pessoal não serão usados fora dos propósitos declarados, ou seja, o combate ao narcotráfico e às guerrilhas das Farc", disse Amorim.
O encontro da Unasul, que reúne Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela, foi convocado neste contexto de inquietações. Será realizado no imponente Hotel Llao Llao, a 1.600 Km a sudoeste de Buenos Aires.
Washington tem quase 300 militares operando no Plano Colômbia de combate ao narcotráfico e ao terrorismo, mas o acordo permite enviar até 800 soldados e 600 civis. O plano estipula o investimento de US$ 46 milhões na base colombiana de Palanquero para servir ao transporte de tropas em aviões capazes de alcançar longas distâncias sem reabastecimento.
Por outro lado, o gasto regional com Defesa somou US$ 51 bilhões em 2008, 30% a mais do que em 2007, segundo especialistas do Centro argentino de Estudos Nova Maioria.
O Brasil está comprando da França cinco submarinos, um deles nuclear, enquanto a Venezuela adquire na Rússia aviões, helicópteros e fuzis. A Bolívia gasta US$ 100 milhões e a Colômbia recebe a maior ajuda militar americana depois de Israel e Egito, segundo a mesma fonte.
O chanceler do Peru, José Antonio García Belaunde, tentou amenizar a situação ao pedir respeito à soberania que a Colômbia tem o direito de exercer. Neste sentido, Uribe advertiu que não voltará atrás e que seu objetivo é "enfrentar com mais sucesso o narcotráfico e o terrorismo".
"Quero deixar uma coisa bem clara para os brasileiros: esta missão nada tem a ver com a Amazônia brasileira", reforçou o subsecretário de Assuntos Hemisféricos do Pentágono, Frank Mora. Ainda assim, a Casa Branca optou por manter-se à margem da Cúpula, mas será muito citada nas discussões.