postado em 27/08/2009 08:21
Os Estados Unidos perderam ontem o último membro do influente clã dos Kennedy que ocupava um posto de primeiro plano no cenário político. O senador democrata Edward Kennedy, mais conhecido como Ted, morreu ontem aos 77 anos, vítima de um tumor no cérebro diagnosticado em maio do ano passado. "Michelle e eu ficamos inconsoláveis ao saber, nesta manhã, do falecimento de nosso querido amigo", diz a nota divulgada pelo presidente Barack Obama. "Ele levou adiante a bandeira de seus irmãos mortos e se tornou o maior senador dos Estados Unidos na nossa época", destaca o texto. "Por cinco décadas, a maior parte da legislação para avançar os direitos civis, a saúde e o bem-estar econômico do povo americano partiu do seu nome e resultou dos seus esforços".
[SAIBAMAIS]"Mesmo enquanto ele lutava valentemente contra uma doença mortal, pude aproveitar, como presidente, seu incentivo e sua sabedoria", escreveu o presidente. Ted Kennedy era um dos mais renomados senadores americanos e o que ficou mais tempo no cargo, representando o estado de Massachusetts desde 1962, quando ocupou a cadeira de JFK, eleito presidente dois anos antes.
Ted nasceu em 22 de fevereiro de 1932, em Boston, caçula dos nove filhos de Joseph e Rose Kennedy. Era irmão do presidente John Fitzgerald (JFK), baleado em 1963, quando começava a luta pela reeleição; do senador Robert (Bob), também assassinado em campanha, em 1968; e de Joe Kennedy, um piloto morto na Segunda Guerra Mundial. Tinha cinco irmãs - uma delas, Eunice Kennedy Shriver, morta no último dia 11, aos 88 anos. "Perdemos o centro insubstituível de nossa família e uma alegre luz em nossas vidas, mas a inspiração de sua fé, otimismo e perseverança viverá em nossos corações para sempre", declarou a família em comunicado.
Formado em Direito pela Universidade de Harvard e pela Universidade de Virginia, Ted se converteu em ícone da esquerda americana ao longo das quatro décadas que passou no Capitólio. Ficou conhecido pela capacidade de fazer acordos. Saúde e educação foram prioridades nos mandatos de Ted, que defendia um sistema de saúde público e universal - como proposto agora por Obama.
A morte de Ted representa, para o presidente, uma perda política de peso justamente no momento em que tenta aprovar seus projetos para instaurar um novo sistema de seguridade social e de saúde. Gary Fogg, de 74 anos, trabalhava como médico residente no Parkland Memory Hospital, para onde John Kennedy foi levado ao ser baleado. Com a morte de Ted, ele reviveu a emoção da perda de mais um célebre político americano. "Sendo médico, eu não concordava com o sistema de saúde que ele defendia, mas mesmo assim o admirava. Ted e John Kennedy foram grandes pessoas, concordando com eles ou não na política", disse Gary ao Correio, por telefone. "Com o sistema que temos hoje, acho que pagamos mais, mas somos mais bem atendidos e temos a chance de desenvolver técnicas e métodos que são usados para ajudar o mundo", explicou o médico. "De qualquer forma, acho que a maioria dos americanos hoje sente que perdemos um grande político", completou.
Em campanha
Ted Kennedy e a maior parte do clã, em especial a sobrinha Caroline, filha de JFK, apoiaram a candidatura do atual presidente desde as primárias democratas de 2008. O senador nem sequer atendeu ao pedido do amigo ex-presidente Bill Clinton para que se mantivesse neutro na disputa entre Obama e a senadora Hillary Clinton - ela ocupava a cadeira de Nova York que foi de Bob Kennedy nos anos 1960. "Apreciei sua confiança e apoio em minha campanha pela presidência", disse Obama. Ted esteve presente na posse do novo presidente e desmaiou depois do ato, por causa do câncer.
O corpo do veterano senador será velado hoje e amanhã em Boston, reduto da família, e enterrado no Cemitério Nacional de Arlington, subúrbio de Washington, onde estão sepultados os dois irmãos mais velhos. Ted tinha pedido por carta que a lei estadual de Massachusetts fosse modificada e para permitir que o governador, Deval Patrick, indicasse um sucessor temporário para o cargo antes de sua morte. No entanto, de acordo com a legislação atual, a cadeira ficará vaga até que uma eleição especial seja realizada, no prazo de 145 ou 160 dias.