Agência France-Presse
postado em 28/08/2009 10:21
TÓQUIO - Os japoneses foram convocados às urnas para eleições legislativas históricas que serão realizadas no domingo, nas quais a oposição de centro poderá pôr fim a meio século de governo conservador na segunda economia do mundo. Porém, além dessa alternância política, preocupados com o aumento do desemprego, com a degradação dos padrões de vida, com a queda demográfica e com o envelhecimento da população, os japoneses pedem uma mudança social.
O Partido Democrata do Japão (PDJ, centro), principal grupo opositor, dirigido por Yukio Hatoyama, de 62 anos, parece ter compreendido muito bem. Seu slogan "uma política a serviço da vida das pessoas" acerta no alvo, segundo as pesquisas que preveem uma vitória esmagadora do PDJ nas eleições legislativas sobre o Partido Liberal Democrata (PLD, direita), do primeiro-ministro Taro Aso.
É certo que o programa da oposição tem propostas atraentes, como subsídios às famílias, ensino gratuito, ajuda aos desempregados, aposentadoria mínima, combate aos subempregos, fim dos pedágios nas estradas e outros mais. Esse programa - generoso até demais, segundo alguns economistas - parece seduzir um eleitorado reticente a mudanças. O PDJ, como um movimento heterogêneo, terá que administrar suas divergências internas para governar.
No campo oposto, Aso, de 68 anos e presidente do PLD, se apresenta como um líder responsável e com experiência, que age, em vez de perder tempo com palavras. "Não votem em um governo, e sim em uma política", reiterava em seus discursos, atribuindo a si mesmo os méritos pela reativação do crescimento após quatro trimestres de recessão. Mas, nesta sexta-feira, o governo anunciava dados preocupantes: a taxa de desemprego alcançou em julho o nível recorde de 5,7% e a deflação aumentou.
Artífice do "milagre econômico", que transformou o Japão na segunda potência econômica do mundo, o PLD conseguiu se manter no poder desde 1955 -com uma breve interrupção de dez meses nos anos 1990- apoiando-se nos grandes empresários e na toda-poderosa burocracia estatal para forjar o que é chamado de "triângulo de ferro".
A situação de partido hegemônico, inédita nas grandes democracias, parece ter chegado ao fim. O PLD sofre as consequências das reformas liberais do ex-primeiro-ministro Junichiro Koizumi (2001-2006), que agravaram as desigualdades e aceleraram o declínio do partido conservador.
Segundo diversas sondagens, os Democratas poderão conquistar cerca de 300 cadeiras das 480 da Câmara dos Deputados, e inclusive a maioria de dois terços. Uma excelente revanche para um partido que há quatro anos obteve apenas 112 deputados contra os 334 do PLD e de seu aliado, o Novo Komeito (budista).
Se o PDJ ganhar, Hatoyama, herdeiro de uma rica dinastia política comparada aos Kennedy, será eleito primeiro-ministro pela Câmara Baixa saída das urnas e formará um governo.
O PLD se comprometeu a formar uma coalizão com outros partidos opositores, em particular com o Partido Social-Democrata (ex-socialistas) e com o Novo Partido do Povo (direita), seus aliados no Senado, com os quais ganhou as eleições de 2007 na Câmara Alta.
Uma possibilidade que faz vibrar os conservadores do PDL, já dispostos a reconquistar o poder, a começar pelas eleições para o Senado no próximo verão.