postado em 30/08/2009 12:30
Os japoneses votaram em massa neste domingo em favor da oposição centrista, que prometeu uma política mais social, após 54 anos de domínio conservador na segunda maior economia do planeta.
De acordo com as primeiras estimativas publicadas pela imprensa, o Partido Democrata do Japão (PDJ, centro) reuniria entre 298 e 329 das 480 cadeiras da Câmara dos Deputados, infligindo um duro revés ao Partido Liberal Democrata (PLD, direita), o poderoso movimento conservador, que ficaria apenas com 84 a 131 cadeiras.
Os resultados oficiais somente serão conhecidos segunda-feira pela manhã, mas o primeiro-ministro, Taro Aso, já reconheceu a derrota e anunciou a intenção de deixar a presidência do PLD.
"Assumo minhas responsabilidades, e vou renunciar", declarou.
O impopular Taro Aso, 68 anos, deve, porém, permanecer no comando do governo até a eleição do novo premier, Yukio Natoyama, 62 anos, presidente do PDJ, pelo Parlamento, daqui a duas semanas.
O PDJ, que já conquistou a maioria no Senado graças à aliança com dois partidos da oposição, exercerá um controle absoluto sobre o Parlamento, e poderá levar adiante seu audacioso programa de reformas.
O anúncio da vitória foi recebido com uma explosão de alegria e uma intensa ovação no quartel-general do PDJ, no bairro de Roppongi, em Tóquio. Após agradecer os eleitores por seu apoio, um sorridente Hatoyama declarou que "o principal desafio será transformar esta vitória no triunfo do povo, sem ser arrogante".
Ao votar na mudança, os japoneses também quiseram punir os excessos da política liberal conduzida pelo PLD nos últimos anos, responsável, segundo eles, da intensificação das desigualdades sociais, do desemprego e da pobreza.
O PDJ prometeu conduzir uma política "ao serviço da vida das pessoas", baseada em um generoso programa de ajuda para os aposentados, as famílias e os mais pobres.
Defensor da recuperação econômica pelo consumo, Hatoyama ainda prometeu uma educação parcialmente gratuita, uma gratificação financeira para cada nascimento e a supressão dos pedágios nas estradas.
O PDJ avaliou em 16,8 trilhões de ienes (125 bilhões de euros) o custo anual de seu programa a partir de 2012, que pretende financiar erradicando as obras públicas supérfluas e os subsídios clientelistas às regiões e reduzindo os salários dos funcionários.
Rico herdeiro de uma longa dinastia de políticos frequentemente comparada aos Kennedy, o futuro premier é partidário de um Japão mais independente dos Estados Unidos e mais voltado para a Ásia sem, porém, questionar a aliança estratégia com o aliado norte-americano.
O PDJ, que nunca governou, assume o controle de um país que está apenas começando a sair de sua pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial, e muitos duvidam da capacidade do partido em tocar todas as reformas sem elevar os impostos. "É uma grande responsabilidade", admitiu Hatoyama.
O PDJ deve nomear já na segunda-feira uma equipe restrita que será encarregada de garantir uma transição suave entre as duas administrações, uma prática comum nos Estados Unidos.
Alguns analistas também questionam a capacidade do PDJ em superar suas dissensões internas, entre ex-conservadores nacionalistas dissidentes do PLD e ex-socialistas. A entrada no governo de dois outros partidos de oposição, o Partido Social Democrata (PSD, esquerda) e o Novo Partido do Povo (NPP, direita), também não vai facilitar as coisas.
Idealizador do "milagre econômico" que transformou o Japão na segunda economia do mundo, o PLD caiu para a oposição pela segunda vez de sua longa história no comando do país.
Em 1993-94, o partido teve que ceder o poder a uma coalizão heteróclita que durou apenas dez meses.