Agência France-Presse
postado em 31/08/2009 10:16
A Casa Branca espera alcançar uma "forte aliança" com o próximo governo japonês de centro-esquerda, depois das eleições que marcaram o predomínio do Partido Democrata do Japão (PDJ), a principal força da oposição. A vitória do PDJ põe fim a 54 anos de hegemonia conservadora na vida política do arquipélago, liderada pelo conservador Partido Democrático Liberal.
[SAIBAMAIS]"Confiamos em que a estreita associação entre nossos países continue florescendo sob a liderança do próximo governo em Tóquio", disse o porta-voz presidencial Robert Gibbs em comunicado divulgado neste domingo.
Durante a campanha, o Partido Democrata do Japão (PDJ, centro) havia prometido, em relação aos Estados Unidos, uma política mais independente que a seguida pelo Partido Liberal Democrata (PLD, direita), muito próximo de Washington.
O Japão, derrotado pelos Estados Unidos em 1945 após a largada de duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, concluiu um tratado de segurança com o antigo inimigo, em virtude do qual 47 mil soldados americanos asseguram a proteção do arquipélago.
Segundo Michael Green, conselheiro para a "Ásia" do ex-presidente George W. Bush, a mudança prevista em Tóquio representa "uma fonte possível de confusão" para o governo do presidente Barack Obama.
"Não é o momento apropriado para os Estados Unidos verem seu mais próximo aliado na Ásia tornar-se imprevisível", estima Green.
Yukio Hatoyama, o futuro primeiro-ministro, já preveniu que não renovaria, em janeiro, a missão naval japonesa de apoio logístico à coalizão liderada pelos Estados Unidos no Afeganistão, um conflito considerado prioritário por Obama.
Os especialistas prognosticam, além disso, gestos de Hatoyama em direção aos vizinhos asiáticos do Japão, para tentar liquidar de uma vez por todas o passado imperialista do arquipélago durante a primeira metade do século XX e a Segunda Guerra Mundial.
A China e a Coreia do Sul haviam acusado o primeiro-ministro conservador Junichiro Koizumi (2001-2006) de ocultar os crimes cometidos pelo Japão, acarretando um esfriamento de suas relações.
"Os chineses poderiam aproveitar-se da ocasião", segundo Green, que prevê uma "ofensiva de sedução por parte de Pequim, a fim de encorajar elementos do PDJ que querem enfraquecer a presença militar americana no Japão".
Especialistas duvidam, no entanto, de que Tóquio modifique sua estratégia no longo prazo e destacam que, se o PDJ estiver ligado à Constituição pacifista do país, não será isolacionista.
"O PLD considera a segurança do Japão através da aliança com os Estados Unidos. O PDJ quer uma política externa mais ativa, através de maior participação na segurança internacional", explica Weston Konishi, especialista em Japão do centro de reflexão Mansfield Foundation.
Hatoyama poderia bem se entender com o presidente americano, com quem compartilha a ambição de lutar contra a mudança climática e renunciar às armas nucleares.
"Um governo progressista em Washington e um possível governo progressista em Tóquio teriam valores em comum", destaca Konishi.
Alguns analistas acham que o PDJ não deverá revolucionar a diplomacia de Tóquio, muito ocupada com as reformas internas prometidas aos japoneses e por sua própria manutenção no poder.