postado em 31/08/2009 09:15
Após 54 anos ininterruptos de governo do Partido Liberal-Democrático (PLD), os japoneses decidiram que esta era a hora de ter uma nova liderança política. Em uma vitória esmagadora nas eleições legislativas realizadas no domingo, a coalizão liderada pelo Partido Democrático do Japão (PDJ) conquistou 340 das 480 cadeiras do Parlamento - uma maioria de 70%. O líder do PDJ, Yukio Hatoyama, já se reunirá hoje com seus aliados para nomear uma equipe de transição destinada a preparar o próximo governo até o mês que vem. Logo que se confirmou a derrota, o primeiro-ministro, Taro Aso, anunciou que deixará a presidência de seu partido, que agora só terá 119 cadeiras.
[SAIBAMAIS]"Os cidadãos sentiam-se frustrados com esse partido no poder. Nós definimos como objetivo mudar o governo e fizemos campanha para isso", afirmou Hatoyama, 62 anos, em meio ao discurso de agradecimento aos eleitores. Provável sucessor de Aso, o líder da oposição vem de uma tradicional família de políticos - ele é neto do ex-primeiro-ministro Ichiro Hatoyama (1954-1956), e filho do ex-chanceler de mesmo nome, todos do PLD. Em 1996, no entanto, ele resolveu fundar seu próprio partido, o PDJ, de centro, com outros dissidentes e opositores.
Apesar da euforia da vitória, o momento não é dos melhores para quem chega. A atual taxa de desemprego, 5,7%, é a pior do país desde o pós-guerra. O país enfrenta deflação, teve crescimento negativo durante 15 meses - reagindo timidamente no último trimestre - e o déficit chega a 170% do PIB. A receita apresentada pelo partido, durante a campanha eleitoral, para superar esse quadro passa pela redução das exportações e pelo estímulo à demanda interna, incentivando o consumo com cortes nos impostos.
Futuro da aliança
O governo de Barack Obama divulgou um comunicado elogiando a "eleição histórica em uma das democracias mais importantes do mundo". "Esperamos que a aliança forte entre os Estados Unidos e o Japão e a parceria entre os nossos dois países continue a prosperar com o próximo governo em Tóquio", afirma o texto, assinado pelo porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. O novo gabinete, que começa a ser definido hoje, deverá ter representantes do Partido Social Democrata e do Novo Partido do Povo, como havia antecipado Hatoyama antes mesmo das eleições. Das 340 cadeiras conseguidas pela coalizão do PDJ, apenas 32 são de outros partidos.
Comemorações de um lado, consternação do outro. Junto com Taro Aso, outros três altos dirigentes do PLD anunciaram sua renúncia ontem. "Preciso assumir minha responsabilidade", disse o atual premiê. "Temos que organizar rapidamente uma eleição para a presidência do partido. Como simples membro, tenho que lutar pela renovação do PLD", completou. Aso tornou-se extremamente impopular com a crise econômica que assolou o país no último ano. Além dos lentos resultados de um plano de restauração, os japoneses frequentemente condenavam seu estilo de vida luxuoso, que se mantinha mesmo diante da crise.