Agência France-Presse
postado em 04/09/2009 14:31
A Igreja Católica e o chefe do governo italiano, Silvio Berlusconi, têm, segundo os observadores, um claro interesse em reconciliar-se, apesar das recentes tensões que culminaram na quinta-feira (3/09) com a demissão "irrevogável" de Dino Boffo, da direção do jornal Avvenire, a voz dos bispos italianos, da rádio Inblu e da cadeia de televisão episcopal TV2000.
[SAIBAMAIS]Boffo havia criticado o comportamento de Berlusconi e sua "fraqueza manifesta por atrizes na flor da juventude".
Tudo começou na sexta-feira passada, quando Il Giornale, da família Berlusconi, publicou na primeira página que Boffo havia sido condenado pela justiça por ter assediado por telefone a esposa de um homem com o qual ele teria mantido uma relação.
Em editorial, Vittorio Feltri, diretor do Il Giornale, estimou que por este motivo, Boffo não poderia dar lições de moral ao chefe de governo.
Boffo justificou-se publicamente, atribuindo a um jovem colaborador do jornal que morreu há cinco anos de overdose de cocaína o telefonema feito de seu celular.
O presidente da Conferência Episcopal, Angelo Bagnasco, chegou a classificar o caso de "um ataque nojento", concedendo todo seu apoio a Boffo.
O caso foi motivo da anulação de um jantar, nesta sexta-feira, entre o secretário de Estado da Santa Sé, Tarcisio Bertone, com Berlusconi.
Apesar de tudo, vários especialistas insistem em que a Igreja e Berlusconi têm mais coisas em comum que motivos de discrepância.
"Berlusconi precisa de uma relação distendida, pacífica com a Igreja, já que é uma instituição muito respeitada na Itália, apesar da mudança de comportamento dos italianos hoje em dia, mais afastados de seus preceitos", explicou Sandro Magister, vaticanista do semanário L'Espresso. "Um governo que tem a Igreja como inimigo tem os italianos como inimigos", resumiu.
Para o especialista, a Igreja também buscará uma aproximação, já que as "posições do governo de centro-direita sobre a reprodução assistida ou a eutanásia são mais tranquilizadoras" do que as da oposição.
O mesmo acontece em relação à imigração. Embora o governo tenha endurecido sua política em relação ao assunto, despertando críticas entre os católicos, a posição da hierarquia eclesiástica sempre foi a de "garantir a acolhida (aos imigrantes) mas também a legalidade e a segurança", explicou Magister.
Para Sergio Romano, editorialista do jornal Corriere della Sera, as tensões recentes ilustram, sobretudo, as divergências de ponto de vista entre o Vaticano e a hierarquia mais conservadora da Igreja, de um lado, e os sacerdotes e bispos mais progressistas, do outro.
"Estes últimos consideram importante denunciar com firmeza a imoralidade da sociedade italiana e falar das suspeitas que pesam sobre o presidente do Conselho (Berlusconi), enquanto que os outros estão mais pendentes das relações com o governo", disse à AFP.
O Vaticano e a hierarquia católica têm interesse em manter boas relações com o governo Berlusconi, "que lhes fez muitos favores no plano fiscal", além de abraçar suas posições éticas.
Romano está convencido de que as duas partes "vão encontrar uma forma de se aproximar" a não ser no caso de um imprevisto como, por exemplo, um novo escândalo que volte a colocar Berlusconi no olho do furacão; a reputação do presidente do Conselho foi profundamente abalada pelas denúncias de ter frequentado a menor Noemi Letizia, caso que levou sua esposa, Veronica Lario, a pedir o divórcio.