Agência France-Presse
postado em 10/09/2009 16:11
José Marc Flores Pereira, o pastor boliviano que sequestrou o avião da Aeroméxico, afundou nas drogas e no fanatismo religioso depois de uma infância de maus-tratos do pai, que o castigava obrigando-o a se vestir de mulher.
"Sabia que ele tinha esse desejo em seu coração. Ele me dizia: quero chamar a atenção dos meios de comunicação, e quero falar com presidente Felipe Calderón", contou Elisa Melgar, esposa de Flores, ao receber a AFP esta quinta-feira em sua casa no município de San Bartolo Coyotepec, no estado mexicano de Oaxaca (sul).
Ela, no entanto, garantiu não ter noção de que o marido iria sequestrar um avião.
O boliviano, que durante o sequestro leu trechos da Bíblia para os passageiros aterrorizados, ameaçou detonar explosivos que, na realidade, eram três latas de suco com luzes.
Pereira, de 44 anos, chegou a Oaxaca nove meses antes com sua esposa e três filhos. Ele pregava a palavra de Deus e dava conferências contra as drogas e o álcool, contou Melgar, que fez questão de defender o marido.
"É um homem estranho, muito ostentoso em sua forma de viver", comentou, por sua parte, Sevando Pérezun, 70 anos, vizinho do sequestrador.
Flores, que também se apresentava sob o nome de Josnar, se iniciou no vício pelas drogas aos 16 anos, quando, trabalhando como motorista de caminhão na Bolívia, começou a consumir cocaína, roubar e finalmente ser preso.
Seu pai, que lhe infringia castigos violentos, como amarrá-lo e obrigá-lo a se vestir de mulher, o tirou da prisão e o enviou para o México.
"Ele foi desterrado pelo pai, que disse: 'Você não serve pra nada. Vou comprar uma passagem para você ir embora", contou, por sua vez, María Pereira de Flores, mãe de Josnar.
No México, Flores se envolveu com a religião e passou a fazer pregações. Na internet existem vários vídeos em que aparece cantando hinos religiosos.
O pastor chegou a avisar a mãe sobre suas intenções de conseguir um encontro com o presidente Felipe Calderón para alertá-lo sobre uma "mensagem do Evangelho".
"Eu não sabia que ele iria sequestrar o avião, ele me disse apenas que queria sequestrar um avião", defendeu María Pereira.
"Ele me disse que recebeu a mensagem de Deus e que tinha que falar com o presidente do México, e que ele se faria ouvido por qualquer meio, mesmo que fosse morto, para dizer que dê atenção ao Evangelho", explicou ainda.
A mãe justificou a ação do filho, apesar de agora ele ter que "pagar um preço por pregar o Evangelho".
"Quero dizer a ele que seja forte e corajoso e, mesmo que pareça uma loucura, mas se Deus o mandou fazer isto, eu o abençoo em nome do Senhor".
"As pessoas sempre denigrem o Evangelho; sempre sofremos como cristãos, ele está no caminho do Senhor", concluiu.
Na quarta-feira, Flores sequestrou um avião da Aeroméxico que voava entre Cancún e a Cidade do México com 104 passageiros e sete tripulantes a bordo, usando um falso explosivo dentro de caixas de suco.
O sequestrador boliviano, que vive no México há 17 anos, foi detido a bordo do avião em uma operação policial de menos de três minutos, poucas horas depois do pouso do Boeing 737 no aeroporto Benito Juárez da capital mexicana.