Um avião de combate negro, vindo do Oceano Índico, levou a ;vingança; em forma de bombas. O contador Ajmir Imtiaz, de 22 anos, morava no vilarejo de Mirwais Mina, na província de Jawizjan (norte). ;Eu me lembro que acordei com o barulho horrível das bombas. Quando vimos o caça no céu, sentimos alívio por saber que logo estaríamos livres do Talibã;, relatou ao Correio. Às 6h de 7 de outubro de 2001, um domingo, um depósito de armas da localidade de Qol Ordo, a 5km da casa de Imtiaz, foi pelos ares. ;Os Estados Unidos atacaram o principal paiol do Talibã e libertaram a cidade da milícia;, lembra o rapaz.
Era o início de uma ofensiva que já deixou 1.374 soldados mortos, incluindo 821 americanos e 213 britânicos. Oito anos após os atentados contra as torres gêmeas e o Pentágono, os EUA conseguiram quase nada em termos de retaliação à morte de 2.990 pessoas. ;Tivemos mudanças no desenvolvimento do país, como melhores oportunidades de negócios, mas os progressos das forças americanas e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em relação à segurança têm sido ínfimos;, reconhece Imtiaz.
[SAIBAMAIS]O jornalista Kamal Nasir Hamyar, morador de Faizabad (nordeste), admite que os Estados Unidos lograram uma grande mudança na educação e no desenvolvimento do Afeganistão. No entanto, ele não acredita que a tão proclamada vingança do ex-presidente George W. Bush foi consolidada. ;Ainda temos combates nas províncias do sul, e eles têm se espalhado para o nordeste. Além disso, os EUA não conseguiram reduzir as plantações de papoula (base do ópio) nem lutar contra a corrupção do governo de (Hamid) Karzai;, opinou. O terrorista Osama bin Laden provavelmente se esconde em algum ponto da fronteira com o Paquistão, e o Talibã se encontra às portas de Cabul. O panorama sombrio é agravado por ações desastrosas da Otan: no último dia 4, um bombardeio da aliança contra a província de Kunduz matou 135 pessoas, incluindo 70 civis; na quarta-feira passada, uma operação para resgatar um jornalista britânico terminou na morte de um repórter afegão.
Erros
Por e-mail, o afegão Abdulhadi Hairan, de 30 anos, analista do Centro para Estudos de Paz e Conflito (Caps) ; com sede em Cabul ;, afirmou que os EUA conseguiram várias façanhas no Afeganistão, como o estabelecimento de um governo democrático. No entanto, alertou que as conquistas não puderam ser mantidas. ;Cada vez mais pessoas nos EUA exigem uma retirada. Isso foi o resultado de erros e do fato de a Casa Branca ignorar o apoio do Paquistão ao terrorismo;, explicou. Segundo Hairan, a condição de santuário para terroristas moveu-se do Afeganistão para o país vizinho. ;Washington faz vistas grossas ao apoio financeiro e militar de Islamabad aos extremistas. Eles operam lá, recebem treinamento e realizam atentados dentro do Afeganistão;, advertiu. A inoperância das forças estrangeiras levou centenas de moradores de vilarejos a formarem milícias para combater o Talibã no Paquistão.
Enquanto carros-bomba e terroristas suicidas matam centenas de inocentes no Iraque e no Afeganistão, a ideologia da rede Al-Qaeda contamina muçulmanos em regiões longínquas. Somália e Iêmen são paraísos para a disseminação da interpretação mais fanática do Corão e a internet se mantém como veículo do ódio. Provas de que os EUA falharam na resposta à tragédia de 11 de setembro de 2001.
1 - Tributo aos mortos
Como já é de costume, a cidade de Nova York homenageia hoje as 2.752 pessoas que morreram na destruição do World Trade Center em Manhattan. O prefeito Michael Bloomberg e funcionários municipais participarão do ritual no Marco Zero, marcado pela leitura do nome dos mortos e por momentos de silêncio na hora do impacto dos dois aviões contra as torres gêmeas e seus desmoronamentos. Ao anoitecer, luzes poderão ser vistas no céu a partir do local das torres.
; Eu acho...
Ajmir Imtiaz, 22 anos, contador, morador de Cabul
;Eu me recordo daquele dia. Nós não tínhamos TV em casa e meu tio tinha um aparelho por satélite em seu quarto. Por meio dele, nos informamos que houve um ataque contra o World Trade Center. A televisão não era permitida pelo Talibã, então meu tio assistia secretamente. Percebi que a economia americana sofreria um grande impacto e que haveria o início de uma nova estratégia dos EUA contra o terrorismo (Operação Liberdade Duradoura). Compreendi que o único lugar no qual a Al-Qaeda estava baseada era o meu país e imaginei que o Afeganistão seria o primeiro alvo dos Estados Unidos;
Abdulhadi Hairan, 30 anos, analista do Centro para Estudos sobre Paz e Conflito (Caps), de Cabul
;A segurança está se deteriorando a cada dia. Os insurgentes têm aumentado sua presença nas cidades do centro e do norte do Afeganistão. O governo é fraco e as forças internacionais são muito cautelosas em suas operações, por causa da crítica em torno das baixas civis. O resultado: péssimos dias adiante. Agora só restam duas opções para o sucesso em meu país: forçar o Paquistão a interromper o apoio ao terrorismo e fortalecer o governo afegão, ao invés de aumentar o contingente das forças internacionais;