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Leia a entrevista com o analista sueco Magnus Ranstorp: "Haverá mais tragédias e traumas"

postado em 12/09/2009 07:05
Para Magnus Ranstorp, diretor de pesquisa do Centro para Estudos de Ameaça Assimétrica do Colégio de Defesa Nacional da Suécia (com sede em Estocolmo), o governo de Barack Obama mudou o foco para o Afeganistão e se aproxima cada vez mais da liderança da rede terrorista Al-Qaeda, inclusive de Osama bin Laden. No entanto, o terrorismo tem se espalhado pela Somália, Iêmen, Paquistão e Europa, pairando como uma ameaça crível. Em entrevista ao Correio, o analista sueco também explicou por que é tão difícil capturar o homem que declarou guerra aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001.


O presidente Barack Obama disse hoje (ontem) que ;renovaria sua resolução contra aqueles que perpetraram este violento ato;, referindo-se aos ataques de 11 de setembro. O senhor vê alguma mudança na política de perseguição a Bin Laden e à Al-Qaeda?
Essa declaração reflete que o presidente Obama e o foco de sua política no Afeganistão representam uma mudança do governo Bush. O desvio de tropas para o Iraque, ordenado pela gestão anterior, distanciou-se o foco de capturar Bin Laden e a mais alta liderança da Al-Qaeda. Essa é a maior mudança entre as administrações, mas não creio que há uma grande alteração na caçada operacional executada pelas agências de inteligência, que continuam a obter sucesso na eliminação de alvos-chaves na fronteira entre Paquistão e Afeganistão. O tema da Somália está no topo da agenda, já que cidadãos americanos têm sido mortos pelo As-Shaabab. As agências de inteligência europeias e americanas estão monitorando, de modo muito cuidadoso, a conexão entre o que ocorre na Somália e na Europa em termos de redes de apoio e de financiamento do terrorismo. Creio que os Estados Unidos continuam se preocupando com elementos extremistas no Paquistão e no Afeganistão, e cada vez mais com o Iêmen -- onde há sinais de que o Estado está entrando em colapso para extremistas e gradualmente se envolvendo na pirataria. Além da Al-Qaeda, existe um grande foco no Hezbollah e sua potencial retaliação contra Israel pelo assassinato de Imad Mughniuey. Há preocupação de que o grupo ataque interesses israelenses na América Latina ou na África.

Oito anos após os atentados contra Nova York e Washington, o mundo está mais seguro?
Eu tenho trabalhado com o tema desde 1988 e tenho visto que o terrorismo realmente se parece com uma montanha-russa. Ele fica um tempo no topo da agenda e depois se dissipa. Acho que provavelmente veremos mais ataques terroristas que nos surpreenderão. Haverá mais tragédias e traumas. Eu me preocupo com as consequências de grandes ataques ao sistema financeiro e ao colapso da infra-estrutura. Também a indústria aérea está vulnerável -- como exemplo, temos o complô descoberto no Reino Unido para derrubar sete aviões sobre o Atlântico. Seremos pegos de surpresa no futuro, apesar do fato de a inteligência e a cooperação antiterror nunca terem sido tão boas.

Por que os Estados Unidos ainda não foram capazes de prender ou matar Bin Laden?
Bin Laden entende os sinais da inteligência (como localizá-lo por meio de comunicação eletrônica) e é muito bom em sua segurança operacional. Ele sabia que a força poderosa dos Estados Unidos seria descarregada contra ele e que seria como encontrar alguém que entende que se usar a tecnologia pode encontrá-lo. Bin Laden sabe que será muito difícil localizar alguém (especialmente nas cavernas e montanhas do Afeganistão) se não usarem a tecnologia. Ele utiliza um pequeno número de elementos para comunicar com o mundo externo e com lugares-tenentes de confiança. Eu diria que ele tem um ;corredor; que é seu elo com o mundo externo e tem vários planos para o caso de essa pessoa ser capturada. Em 2002, um jornalista me telefonou e contou que estava com Bin Laden em Tora Bora. Dois dias depois, os EUA começaram a bombardear a região, mas já era tarde. Creio que Bin Laden será pego em poucos anos.

Que avaliação o senhor faria dos oitos anos de guerra ao terrorismo?
Tivemos contratempos, com extraordinárias rendições e áreas problemáticas em termos de liberdades civis e direitos humanos, em nome da segurança. A segurança pode ser obtida com respeito aos direitos humanos. Tem havido uma dúzia de complôs na Europa que foram descobertos. As agências de inteligência sabem onde propcurar. Eu não acho que estejamos apenas começando a resolver o problema. Há mais eventos geopolíticos que influenciarão a forma e a direção do terrorismo no fuuro. Eu temo que estejamos nos focando demais na Al-Qaeda. Deveríamos estar mais cientes de ameças em desenvolvimento vindas de direções diferentes (outros tipos de extremismo ideológico). Um grande fracasso na guerra ao terrorismo é que a América Latina tem saído do foco de Washington. Eu estou preocupado sobre a extensão da influência do Irã no continente e que deve ser a cena para mais ataques terroristas, como o que vimos em Buenos Aires em 1992 e 1994. Esse combate ao terrorismo está apenas começando uma nova fase. Temos muito a aprender. O que temo é que estejamos nos preparando para a última guerra, quando haverá novas formas que nos surpreenderão.

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