postado em 14/09/2009 07:00
Fernando Penteado CardosoO Brasil perde um grande amigo. Faleceu em Dallas, na noite de 12 de setembro, o insigne agrônomo e cientista, apóstolo mundial do alimento, Dr. Norman Borlaug, vítima de câncer. Grande amigo do Brasil, visitou o país desde a década de 1940, quando se dedicava ao melhoramento de variedades de trigo e procurava plantas diversificadas por todo o mundo, inclusive no Rio Grande do Sul, onde Beckmann e associados se dedicavam à seleção desse cereal. Na década de1990, viajou diversas vezes para Sete Lagoas (MG) para colaborar com a Embrapa na genética da variedade do milho de proteína de qualidade, conhecido por "Opaco 2".
Em 1995, a convite da empresa Manah S.A., percorreu a região do Cerrado e pronunciou palestra a funcionários e produtores convidados, ocasião em que emitiu o inédito elogio de que "acabava de ver na recuperação do Cerrado, transformando terras fracas em solos férteis de alta produtividade, era o maior acontecimento na história da agricultura do século 20, a nível mundial."
Retornou ao Brasil no inicio de 2004 por iniciativa própria, pois queria ver o que havia acontecido no cerrado. Em companhia do Prof. Ed Runge da Universidade Texas A e do presidente da Fundação Agrisus F.Cardoso, percorreu os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Proferiu palestra na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP (em Piracicaba). Após presenciar a colheita de soja em Sapezal (MT), seguida de plantio de milho, ele confidenciou "este foi um dos dias gratificantes de minha vida".
Esteve presente à cerimônia da outorga do Prêmio Mundial do Alimento (World Food Prize), instituído por sua iniciativa, quando três agrônomos foram distinguidos pelo trabalho de recuperação do Cerrado brasileiro: Alysson Paulinelli (ex-ministro da Agricultura, idealizador do Programa do Cerrado-PROCER na década de 1980), Edson Lobato (Embrapa-Cerrado, Planaltina/DF) e o americano Colin McClung (IRI, Matão/SP).
Em recente artigo publicado pelo New York Times em agosto último, sob o título "Os Produtores Podem Alimentar o Mundo", ele volta a manifestar sua confiança na tecnologia, ao afirmar que "melhores semente e fertilizantes, não mitos românticos, permitirão que assim o façam".
Ao verificar na Ásia, em 1968, os novos trigos e arroz introduzidos por Borlaug, o Sr. William Gaud, diretor da USAID, exclamou: "Esta é uma revolução verde". Daí se originou apelido honorífico de "Pai da Revolução Verde".
Borlaug recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1970 e em seu país foi homenageado com a Medalha Presidencial da Liberdade (1977), a Medalha de Ouro do Congresso (2006) e a Medalha Nacional da Ciência (2007). O mundo chora a perda de tão distinto agrônomo/cientista, um idealista, modesto e desprendido, preocupado com a produção mundial de alimento no presente e no futuro.
Fernando Penteado Cardoso, 95 anos, engenheiro agrônomo e amigo de Norman Borlaug