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Entrevista - Jessica Montell: 'De 1.387 palestinos mortos, 773 eram civis'

A organização não-governamental B;Tselem - Centro de Informação Israelense para Direitos Humanos nos Territórios Ocupados foi fundada em 1989 por um grupo de acadêmicos, advogados, jornalistas e membros da Knesset (Parlamento israelense). Com sede em Jerusalém, a entidade acaba de divulgar um estudo com números da Operação Chumbo Fundido, realizada pelas Forças de Defesa de Israel na Faixa de Gaza, entre dezembro e janeiro passado. Em entrevista ao Correio, por e-mail, Jessica Montell ; diretora executiva da B;Tselem ; falou sobre o relatório.

Quantos civis foram mortos durante a operação israelense na Faixa de Gaza e como a B;Tselem obteve tais dados?
De acordo com nossa pesquisa, as forças de segurança de Israel mataram 1.387 palestinos durante o curso de três semanas de operação. Desses, 773 não tomaram parte nas hostilidades, incluindo 320 meninos e meninas e 109 mulheres. Dos mortos, sabemos que 330 haviam participado dos combates. Outros 428 eram policiais palestinos, muitos dos quais mortos em bombardeios contra delegacias no primeiro dia da operação. Os dados da B;Tselem são o resultado de meses de pesquisa meticulosa, e fizemos tudo ao nosso alcance para verificá-los. Nossos pesquisadores de campo na Faixa de Gaza coletaram testemunhos e falaram com os parentes dos mortos. Nós cruzamos as informações com investigações realizadas por organizações de direitos humanos palestinas e internacionais e com os dados de vários sites e blogs, incluindo aqueles das alas militares dos grupos armados palestinos e da polícia. A B;Tselem também analisou os anúncios feitos pelo porta-vos das Forças de Defesa de Israel (IDF) e pela chancelaria israelense. Como parte da apuração, pedimos ao Exército a lista de baixas, mas eles se recusaram a apresentá-la.

As mortes de civis poderiam ter sido evitadas? As IDF acusaram o Hamas de usar civis como escudos humanos;
Ainda há muitas coisas que não são conhecidas -- por essa razão, é uma vergonha que Israel não tenha concordado em cooperar com a ONU. Sem uma investigação independente, é difícil responder a essa questão. Parece claro que Israel estava muito mais preocupado em proteger seus soldados do que os civis palestinos. Certos casos individuais -- a proibição do tráfego de ambulâncias e o disparo contra cidadãos desarmados -- exigem uma apuração para determinar se isso era uma política ou uma conduta errada de um soldado. Devemos considerar a complexidade do combate em uma área densamente povoada contra um grupo armado como o Hamas, que não hesita em usar meios ilegais para se refugiar entre a população civil.
[SAIBAMAIS]
As leis humanitárias não foram obedecidas durante a operação militar?
Nós sabemos que o Hamas violou a lei internacional, ao explicitamente alvejar civis israelenses com foguetes. Parece claro que eles desrespeitaram a lei internacional ao disparar contra sua própria população civil. Há fortes indícios de que algumas ações israelenses também violaram a lei internacional -- talvez a mais clara tenha sido o ataque a prédios do governo.