Mundo

Relatório da ONU acusa Israel e palestinos de violações das leis internacionais durante ofensiva

postado em 16/09/2009 07:00
;O que vi de pior em Gaza foram os restos das crianças nos hospitais;, afirmou ao Correio, por meio de um software de videoconferência, um jornalista palestino que preferiu não se identificar. ;Eu estava no carro com meu filho de 3 anos, quando ouvi uma grande explosão e o barulho de um caça F-16; deixei Fouad em casa, voltei e me deparei com três cadáveres;, relatou à reportagem outro palestino, um engenheiro de 27 anos, também morador da Cidade de Gaza. ;Dentro do carro, estava metade de um corpo queimado; podia ver os órgãos daquele homem, que ainda estava vivo e chorava;, acrescentou.

Do outro lado da fronteira, ao norte da Faixa de Gaza, as três semanas de ofensiva militar ; entre dezembro e janeiro passado ; lançaram o medo e a incerteza sobre cidadãos israelenses. Centenas de foguetes palestinos Qassam caíram no território vizinho. Depois de uma exaustiva investigação, que compreendeu 188 entrevistas, 10 mil páginas de documentos e 1.200 fotografias, a Organização das Nações Unidas (ONU) culpou israelenses e palestinos por ;crimes de guerra;.

De acordo com o relatório elaborado pelo juiz sul-africano Richard Goldstone, ;há evidências indicando sérias violações dos direitos humanos internacionais e da lei humanitária cometidas por Israel;. O texto afirma que os militares israelenses praticaram crimes de guerra e, ;possivelmente;, crimes contra a humanidade. Também acusa as Forças de Defesa de Israel (IDF) de usarem ;força desproporcional;.

O documento conclui que grupos armados palestinos foram culpados de crimes de guerra e, ;possivelmente;, de crimes contra a humanidade, ao lançarem foguetes. ;Israel impôs um bloqueio equivalente a uma punição coletiva, dentro de uma política sistemática de isolamento progressivo e privação da Faixa de Gaza;, acrescenta o documento.

Falhas
Em entrevista exclusiva ao Correio, por e-mail, o americano Richard Falk ; relator especial para a Palestina no Conselho dos Direitos Humanos da ONU ; considerou ;correto; o documento ao culpar ambos os lados, mas apontou falhas nas conclusões. ;Por terem sido lançados de forma deliberada contra civis, os ataques palestinos são crimes de guerra. No entanto, não tiveram a intenção de causar danos sistemáticos e em massa para receberem a denominação de ;crimes contra a humanidade;;, comentou.

[SAIBAMAIS]Professor de direito internacional da Princeton University, Falk disse ainda que o Relatório Goldston cometeu um lapso, ao apontar que os lançamentos de foguetes palestinos praticamente inexistiram durante o cessar-fogo de 2008 e que o Hamas propôs a extensão indefinida da trégua. ;Os ataques israelenses em Gaza parecem ter usado a ameaça dos Qassam como pretexto para esconder suas reais motivações, contrárias à lei internacional;, observou.

Um estudo divulgado pela organização não governamental B;Teselem corrobora a posição da ONU. O documento da ONG revelou que 1.387 palestinos foram mortos na mega-ofensiva. ;Desse total, 773 não tomaram parte nas hostilidades, incluindo 320 crianças e 109 mulheres;, disse à reportagem Jessica Montell, diretora da entidade. ;Como parte da apuração, pedimos ao Exército a lista de baixas, mas eles se recusaram a apresentá-la, o que é uma vergonha;, emendou. Segundo ela, ;parece claro que Israel estava muito mais preocupado em proteger seus soldados do que resguardar a integridade física dos civis palestinos;.

; Premiê rejeita fim de colônias

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o enviado especial dos Estados Unidos, George Mitchell, se reuniram ontem em Jerusalém para tentar estabelecer um acordo quanto aos assentamentos judaicos nos territórios palestinos. As decisões são cruciais para a retomada das negociações de paz. Durante três horas, Mitchell pressionou o governo israelense a interromper as construções nas colônias da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental. Porém, essa ideia havia sido descartada por Netanyahu no dia anterior. ;Eu disse aos americanos que poderíamos considerar uma redução nas construções por um período limitado de tempo;, destacou o premiê na segunda-feira, ao jornal Yedioth Aharanot.

Apesar do impasse, o emissário norte-americano para o Oriente Médio mostrou esperança em ;levar a fase das discussões a uma conclusão rápida, para avançar em nossa busca de uma paz global na região;. Ele disse, ainda, que tanto o governo norte-americano quanto o israelense ;compartilham o mesmo sentimento de urgência; para a retomada das negociações. O escritório do primeiro-ministro de Israel afirmou que as conversas foram ;boas; e que está previsto um novo encontro ainda hoje.

Mitchell também se encontrou à noite com o presidente palestino, Mahmud Abbas, na Cisjordânia. De acordo com o chefe de negociação da Autoridade Palestina, Saeb Erekat, Abbas destacaria ao enviado norte-americano a impossibilidade de retomar o diálogo de paz com Israel sem a garantia de interrupção da expansão das colônias judaicas.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação