Agência France-Presse
postado em 17/09/2009 15:39
O abandono do projeto norte-americano de implantar um escudo antimísseis no Leste Europeu proporcionará uma aproximação entre Washington e seus aliados da Otan com Moscou, no momento em que os ocidentais esperam que os russos os ajudem a resolver o conflito afegão.Mas essa talvez não seja a razão principal da decisão dos Estados Unidos: "O principal motivo é de tipo técnico-orçamentário e não o desejo de agradar aos russos", considera Joseph Henrotin, do Centro de Análises e de Previsão de Riscos Internacionais (CAPRI) de Paris.
Deve-se, sobretudo, "às dúvidas recorrentes de alguns setores militares norte-americanos relativas à eficácia real dessses mísseis e ao seu custo neste período de crise", acrescenta esse especialista.
Segundo o Wall Street Journal, que revelou a decisão nesta quinta-feira, os especialistas norte-americanos concluíram, principalmente, que a ameaça estratégica de foguetes iranianos de longo alcance (mais de 5.000 km), capazes de atingir o território dos Estados Unidos, não era iminente.
Na época do presidente George W. Bush, Washington, para justificar a mobilização no Leste Europeu do "terceiro pilar" de seu escudo antimísseis, assegurava que o tempo urgia ao considerar que Teerã poderia se dotar desse tipo de arma, no mais tardar, em 2015.
Aparentemente, os militares russos, que negavam obstinadamente que os iranianos estivessem tão avançados, haviam avaliado melhor a situação.
O embaixador russo na Otan, Dimitri Rogozine, não escondeu à AFP sua satisfação por "essa notícia tão positiva".
Mas, sejam quais forem os fatores que levaram Washington a abandonar o projeto que tanto irritava Moscou, o anúncio foi feito na véspera de um importante discurso do secretário-geral da Aliança Atlântica, Anders Fogh Rasmussen, sobre um "novo começo" entre a Otan e Rússia.
Pura coincidência? A sequência se assemelha, em todo caso, a uma operação bem orquestrada.
Na quarta-feira, em seu blog, Rasmussen anunciou que ia realizar "ofertas concretas" à Rússia para estabelecer a "confiança" que o conflito russo-georgiano de agosto de 2008 havia dissipado.
Entre os "desafios" que Otan e Rússia devem enfrentar, o secretário-geral citou a proliferação de armas de destruição em massa assim como o terrorismo e o Afeganistão.
"Construir (um Afeganistão) seguro e estável é de interesse comum da Otan e da Rússia (...) Podemos fazê-lo conjuntamente", acrescentou.
Para acalmar os ânimos de uma opinião pública internacional cada vez mais oposta a uma permanência indefinida dos soldados ocidentais no Afeganistão, no momento em que as perdas se agravam, a Otan defende uma "afeganização" o mais rápido possível.
Uma mensagem que Moscou apoia efusivamente. Rogozine admite que a Rússia perderia com uma vitória dos islamitas no Afeganistão.
Em um artigo publicado nesta quinta-feira na revista European Voice, o embaixador russo propõe, inclusive, "construir" na Ásia Central "uma zona de segurança comum".
Um projeto que passaria por um acordo entre a Otan e a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), que reúne Moscou e as ex-Repúblicas soviéticas da região, vizinhas do Afeganistão.
"Os talibãs só podem operar no Afeganistão com apoio externo. Se a Otan quer que sua nova estratégia norte-americana tenha êxito, precisa do apoio russo", assegura Rogozine.
Os Estados Unidos "com este gesto com a Rússia, esperam também respostas positivas de Moscou no dossiê nuclear iraniano", assegura Henrotin.