postado em 19/09/2009 08:00
No primeiro dia de feriado, às vésperas do Eid Ul-Fitr (o fim do Ramadã), Teerã amanheceu diferente. A capital de 10 milhões de habitantes estava quase vazia, em meio ao prenúncio de que soldados e basijis (membros da milícia leal ao regime teocrático islâmico) semeariam mais uma vez a violência. Por volta das 10h (2h30 em Brasília), milhares de iranianos aproveitaram o tradicional Dia de Jerusalém, celebrado na última sexta-feira de jejum do Ramadã, em apoio ao povo palestino. Estavam ali para gritar ;Morte ao ditador; e ;Não à Faixa de Gaza, não ao Líbano, minha vida pelo Irã;. Muitos deles ostentavam fitas amarradas aos dedos, bandanas e bandeiras ; todas na cor verde, em alusão ao candidato derrotado nas eleições presidenciais de junho Mir Hossein Moussavi. O empresário Mohammad Masiha, de 27 anos, não deixou a cidade e evitou sair de casa. ;Se me prendessem, talvez me matassem ou colocassem eu e minha família em sérios apuros;, afirmou ao Correio, pela internet. A tensão chegou ao ápice por volta das 13h (5h30 em Brasília), quando o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, mais uma vez estarreceu e indignou o mundo.;Eles (os ocidentais) lançaram o mito do Holocausto. Eles mentiram, e depois apoiaram os judeus. Já que vocês pretendem que o Holocausto seja uma realidade, por que não autorizam um estudo?;, ironizou o chefe de Estado, durante discurso realizado antes das orações de sexta-feira e transmitido em rede nacional de TV, na Universidade de Teerã. Diante dos retratos dos aiatolás Ruhollah Khomeini e Ali Khamenei, um efusivo e gesticulador Ahmadinejad não media as palavras e destilava ódio em direção a Israel. ;O pretexto utilizado para estabelecer o regime sionista é uma mentira, baseada numa alegação duvidosa, uma asserção mítica, e a ocupação da Palestina não tem nada a ver com o Holocausto;, vociferou. ;Esse regime (israelense) não tem futuro. Sua vida chegou ao final;, bradou o presidente, saudado por partidários que gritavam ;Morte a Israel!”.
Cerca de uma hora antes, Amin Mehrvar, de 27 anos, e milhares de simpatizantes de Moussavi haviam entrado em choque com homens da Guarda Revolucionária e com basijis. ;Era por volta de meio-dia e eles queriam que as pessoas se espalhassem. Então, nos atacaram e usaram bastões de madeira para bater no povo;, relatou Amin à reportagem. ;Eles me acertaram nas costas. Não pude ver (o ex-presidente Mohammad) Khatami e Moussavi;, acrescentou o veterinário. Outro morador de Teerã que não quis se identificar contou que, no mesmo horário, ouviu sirenes de ambulâncias. Relatos davam conta de que Khatami sofreu um ataque por parte de conservadores, que o derrubaram no chão. O ex-líder foi socorrido por ativistas da oposição, que afastaram os agressores. O mesmo quase ocorreu com Moussavi, obrigado a recuar do local dos protestos.
Ignorante
As palavras de Ahmadinejad causaram assombro no Ocidente. O chanceler britânico, David Miliband, considerou a negação do Holocausto ;abominável e ignorante;. ;É muito importante que a comunidade internacional se levante contra essa onda de insultos;, declarou. Segundo a agência de notícias France-Presse, a Casa Branca condenou as ;mentiras sem fundamento, ignorantes e cheias de ódio; proferidas pelo mandatário. ;Quero lembrar o que o presidente (Barack Obama) disse no Cairo: negar o Holocausto é infundado e ignorante;, disse o porta-voz Robert Gibbs. Por meio de um comunicado, a chancelaria alemã comentou que Ahmadinejad ;é uma vergonha para seu país;.
[SAIBAMAIS]Em entrevista ao Correio, o iraniano Nader Entessar ; diretor do Departamento de Ciência Política da University of South Alabama (Estados Unidos) ; explicou que Ahmadinejad culpa o sionismo por ter ;corrompido; o judaísmo. ;Ele tenta separar o estado de Israel, que considera ilegítimo, do status dos judeus. Em sua mente, o Holocausto foi algo que os ;sionistas; criaram para justificar a fundação do Estado de Israel e o êxodo dos palestinos árabes, expulsos pelos europeus judeus;, comentou.