O simples fato de reunir chefes de Estado e governo dos 192 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) já torna a sessão anual da Assembleia Geral, em Nova York, um palco de encontros e desencontros políticos, geralmente motivados por declarações polêmicas. Neste ano, porém, alguns elementos colocarão um tempero a mais na reunião, que marca a estreia de um novo anfitrião, o presidente Barack Obama. Além do discurso do ;calouro;, são aguardadas com alguma apreensão as participações dos presidentes iraniano, Mahmud Ahmadinejad, e líbio, Muammar Kadafi, na próxima quarta-feira. Expectativas cercam também o resultado de encontros paralelos ; um deles, ainda não confirmado, entre o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
De acordo com a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, Obama abordará principalmente os ;desafios globais; e a necessidade de empenho de todos os países presentes para enfrentá-los. ;Não podemos nos limitar à tradicional divisão Norte-Sul, que tem impedido uma efetiva cooperação internacional. Todos têm responsabilidade;, disse Rice na sexta-feira passada. Para o cientista político Mark Katz, da George Mason University, Obama usará sua boa oratória para tentar, mais uma vez, melhorar a imagem externa que o antecessor deixou. ;Como no discurso que pronunciou no Cairo, ele tentará mostrar que os interesses e valores americanos são semelhantes aos do resto do mundo.;
A secretária de Estado, Hillary Clinton, contudo, antecipou que o problema da proliferação de armas nucleares está no topo das preocupações que serão levadas por Obama às Nações Unidas. ;Não há ameaça maior para nossa segurança e para o mundo;, disse a chefe da diplomacia dos EUA, ao apresentar os objetivos de Washington para a reunião. Obama deve tratar do avanço nuclear do Irã no encontro bilateral que terá com o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev. O norte-americano se encontrará ainda com o colega chinês, Hu Jintao, e o recém-empossado primeiro-ministro do Japão, Yukio Hatoyama.
Posição firme
A reunião da Assembleia Geral ocorrerá uma semana antes do encontro dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e da Alemanha com o principal negociador nuclear do Irã, Saeed Jalili, para tratar do programa de enriquecimento de urânio na República Islâmica. Em Nova York, no entanto, Ahmadinejad deverá reforçar a disposição de tratar de ;temas globais; e reiterar sua posição firme de não abandonar o programa nuclear.
A expectativa é que o iraniano, reeleito sob contestações, leve para a Assembleia uma retórica ainda mais ácida do que nas reuniões anteriores, quando se destacou pelos ataques e provocações a Israel. ;Sem dúvida, Ahmadinejad vai se comportar de forma polêmica, como sempre. Na verdade, seria muito surpreendente se ele não o fizesse;, prevê Katz. Na última semana, a Casa Branca garantiu que não haverá qualquer tipo de encontro oficial com a delegação iraniana, como havia noticiado a imprensa local. O presidente do Irã nem sequer foi convidado para o jantar que Obama oferecerá aos presidentes, na noite de terça-feira.
Outra participação polêmica será a do líbio Muammar Kadafi, que vem sendo duramente criticado desde que recebeu de volta ao país, com comemorações, Abdelbaset Ali Mohammed Al-Megrahi, o único acusado pelo atentado de Lockerbie, que matou 270 pessoas, sendo 189 norte-americanas, em 1988. A embaixadora dos EUA na ONU pediu a Kadafi que exercite a ;moderação; em seu discurso, para não ;exacerbar os sentimentos; dos americanos. ;É uma ferida aberta, é muito sensível para todos nós;, disse. Kadafi, que sempre se hospeda em uma tenda beduína em suas viagens, já causou problemas antes mesmo de chegar. Autoridades federais e do estado de Nova Jersey rejeitaram a ideia de Kadafi erguer sua tradicional tenda em uma propriedade do governo líbio em Englewood, perto de Nova York.