postado em 21/09/2009 09:08
O Concurso Miss Mina Terrestre, que este ano ocorre no Camboja, é controverso e uma fonte inesgotável para debates. Apoiado quando ocorreu em Angola, onde a premiação da vencedora contou com a presença da primeira-dama do país, Ana Paula dos Santos, o projeto não foi bem recebido pelo governo cambojano. As concorrentes participariam no último dia 7 de uma apresentação de abertura do evento, mas, quatro dias antes, as autoridades proibiram o concurso.
O porta-voz do governo, Khieu Khanarith, disse que a decisão de cancelar as apresentações foi tomada para proteger a imagem das concorrentes. "O concurso zombaria das vítimas de minas terrestres no Camboja", afirmou. O ministro cambojano de Assuntos Sociais, Ith Sam Heng, concorda com Khanarith. Ele acredita que um evento do tipo pode ferir "a dignidade e a honra dos deficientes físicos".
Tímida e falando baixo, uma das concorrentes a miss, Song Kosal, de 24 anos, disse ao Correio, por telefone, que ficou "desapontada quando o governo cancelou as apresentações". Porém, a competição continua no site do evento, em que pessoas de todo o mundo podem votar. Kosal, que perdeu a perna direita na explosão de uma mina terrestre há 10 anos, revelou estar "muito feliz por ainda poder participar do concurso", que oferece uma prótese à vencedora.
Ao saber da decisão dos líderes do país asiático, o idealizador do concurso, Morten Traavik, 37 anos, ficou surpreso. Em entrevista por telefone, o norueguês explicou que o governo vinha apoiando o evento, mas, de última hora, resolveu mudar de ideia. "Isso mostra a ditadura do país. O governo cambojano se apresenta como uma democracia, mas é só no nome", criticou. Para Traavik, que trabalha como diretor de teatro e cinema, a proibição do Miss Mina Terrestre é um modo de evitar a discussão e o debate. "Eles não querem apoiar nada que seja controverso", reclamou.
O diretor de teatro revelou que algumas organizações de ajuda humanitária consideram o evento um "circo dos horrores", mas garante que nunca teve a intenção de explorar a tragédia dos outros. "Quero mostrar que essas mulheres são sobreviventes. Quero estimular a discussão e o debate, pois são importantes", explica. Além disso, Traavik acredita que um concurso como esse chama a atenção para a questão das minas terrestres ao redor do mundo