Nova York - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu nesta quarta-feira que seja criada uma nova ordem econômica mundial, depois da crise financeira vivida pelo planeta. "Como a economia mundial é interdependente, somos obrigados a intervir através das fronteiras nacionais e refundar a ordem econômica mundial", afirmou Lula, em seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova York.
Lula apresentou suas recomendações para a economia mundial na véspera da realização da cúpula do G20 em Pittsburgh, quando se reunirá com os demais presidentes e chefes de Governo do grupo de países industrializados e potências emergentes. "Defendo a regulação dos mercados financeiros, a adoção de políticas anticíclicas, o fim do protecionismo e a luta contra os paraísos fiscais", declarou Lula.
O Brasil, proclamou, "felizmente foi um dos últimos países a serem golpeados pela crise e um dos primeiros a emergir dela". "Não houve mágica no que fizemos. Simplesmente mantivemos nosso sistema financeiro a salvo da contaminação do vírus da especulação. Cortamos nossa vulnerabilidade e passamos de devedores a credores internacionais".
Segundo Lula, mais que uma crise dos grandes bancos, o que aconteceu foi "uma crise dos grandes dogmas". "Uma forma de pensar e de atuar sem sentido, que dominou o mundo durante décadas e terminou em colapso", destacou.
"Refiro-me à absurda doutrina de que os mercados podem se regular a si mesmos, sem a necessidade de uma intervenção estatal supostamente intrusiva, e a tese de liberdade absoluta para o capital financeiro sem regras de transparência e além do controle dos povos e das instituições".
A verdadeira causa da crise foi, segundo Lula, "o confisco da soberania dos povos e nações em Estados e governo democráticos por redes autônomas de riqueza e poder".
[SAIBAMAIS]Um ano depois da crise, "observamos alguns avanços, mas persistem algumas dúvidas. Ninguém se anima claramente ainda a confrontar as sérias distorsões da economia global na área multilateral".
"Muitos dos problemas subjacentes foram ignorados. Existe uma enorme resistência contra a adoção de mecanismos destinados a regular os mercados financeiros".
Protecionismo
Segundo Lula, os países ricos estão adiando a reforma de instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, paralisando a Rodada de Doha da OMC e levantando mais barreiras protecionistas.
Por outro lado, Lula pediu que os países países pobres e em vias de desenvolvimento aumentem sua cota de controle sobre o FMI e o Bird. "De outro modo, não haverá verdadeiras mudanças e uma nova crise será inevitável".
Zelaya
Também fez um breve e enérgico apelo à restauração da democracia em Honduras. "A comunidade internacional pede que Manuel Zelaya regresse imediatamente à presidência de seu país", afirmou, acrescentando que é preciso permanecer alerta para assegurar a inviolabilidade da embaixada brasileira na capital de Honduras. A menos que exista vontade política, vamos presenciar outros golpes como o que depôs o presidente constitucional de Honduras", advertiu Lula.
Meio Ambiente
Por fim, reiterou seu compromisso em termos de defesa do meio ambiente, afirmando a intenção do Brasil de reduzir 80% do desmatamento da Amazônia até 2020 e recordando que mais de 80% dos automóveis produzidos no país são híbridos.
"Queremos consolidar nosso papel como uma potência mundial da energia verde", explicou Lula.
E, quanto a seu objetivo de conseguir uma vaga para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU, afirmou que as Nações Unidas não podem mais manter as mesmas estruturas que vigoram desde a Segunda Guerra Mundial.