postado em 23/09/2009 14:31
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirmou nesta quarta-feira que espera poder dialogar de forma pessoal com o governante de fato Roberto Micheletti, com o intuito de encontrar uma solução para a crise política que o país atravessa. "Esse é o objetivo (da volta a Honduras), dialogar de forma pessoal, não apenas com ele (Micheletti), como também com os grupos econômicos do país, com os grupos políticos que têm interesse em participar nas eleições de novembro", afirmou Zelaya à.
"Cheguei a Honduras com uma proposta de diálogo que foi respondida com bombas de gás lacrimogêneo", afirmou Zelaya, que está refugiado desde segunda na representação diplomática brasileira em Tegucigalpa, que foi cercada pelas tropas hondurenhas.
"Eles impuseram até interferência telefônica, estamos sendo isolados", acrescentou Zelaya, assegurando que ocasionalmente enfrenta problemas para falar com outros governantes por causa das antenas bloqueadoras de sinal instaladas em torno da embaixada pelo governo de Micheletti.
Micheletti, por sua vez, afirmou em um comunicado que também está disposto a dialogar com Zelaya, desde que ele reconheça as eleições previstas para 29 de novembro.
"Primeiro, eu quero escutar da parte dele que aceita as eleições, vamos às eleições", declarou Micheletti em uma entrevista à BBC na noite de terça-feira.
Micheletti também se declarou contrário ao uso da força para tirar Zelaya da embaixada do Brasil, depois que o presidente deposto denunciou que o governo preparava um plano de invasão para prendê-lo e assassiná-lo.
"Nós nunca utilizamos a força. Eu sei o que é lutar pela democracia e não acredito no uso da força sob nenhuma justificativa. O Exército já tem suas instruções, a polícia tem instruções de cumprir o mandato constitucional", indicou.
[SAIBAMAIS]Zelaya também pediu aos governamentes que participam da Assembleia Geral da ONU que "não deixem sozinho o povo hondurenho".
"Agradecemos tudo o que a comunidade internacional fez pelo povo hondurenho, porque o planeta inteiro se idenficicou com a resistência, mas pedimos agora que os que estão na ONU não deixem só o povo hondurenho nestes momentos críticos", declarou Zelaya.
A ONU deu início formal nesta quarta aos debates de sua 64ª Assembleia Geral em Nova York, e um dos temas que concentrará a atenção dos mais de 120 chefes de Estado e de Governo presentes é a crise em Honduras.
Em seu discurso inaugural na ONU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a comunidade internacional quer que o presidente deposto de Honduras seja restabelecido imediatamente no poder.
"A comunidade internacional pede que Zelaya regresse imediatamente à presidência de seu país", afirmou Lula, acrescentando que é preciso permanecer alerta para garantir a inviolabilidade da embaixada brasileira na capital de Honduras.
Os serviços de energia elétrica e água potável voltaram a funcionar normalmente nesta quarta-feira na embaixada brasileira em Honduras, mas persistem as dificuldades para se conseguir alimentos, informou um partidário zelayista.
Também continuavam as dificuldades para conseguir material de higiene pessoal para os cerca de cem seguidores de Zelaya que ainda permanecem na legação.
"Estamos em condições desumanas pelas dificuldades para a passagem de alimentos" do exterior para a embaixada, disse o escritor hondurenho Milton Benítez à AFP.
"Neste momento, comemos um pouco de pão com manteiga, alguns de nós não conseguiram, mas as mulheres puderam comer", acrescentou Benítez, que está na embaixada desde segunda-feira, quando Zelaya retornou de surpresa ao país e se refugiou na sede diplomática. "Estamos com a mesma roupa, sem conseguir tomar banho, sem pasta de dente", explicou ainda o escritor socialista, relatando que cerca de 200 pessoas deixaram nesta quarta-feira a embaixada, mas que outras 100 permaneciam.
O governo de fato de Honduras suspendeu nesta quarta, de forma provisória, o torque de recolher imposto na segunda, permitindo assim que as pessoas pudessem ir às compras para se abastecer de mantimentos.