Agência France-Presse
postado em 30/09/2009 11:24
Sob um esquema de segurança jamais visto antes, a China vai comemorar nestaa quinta-feira o 60; aniversário da ascensão do regime comunista no país, oportunidade de celebrar seu status de nova potência mundial, inclusive no âmbito militar.O Partido Comunista, fortemente assentado no poder em Pequim desde 1949 mesmo que a China seja hoje menos "vermelha", vai aproveitar este aniversário simbólico para glorificar as realizações deste imenso país e reafirmar a sua coesão, em um contexto de aumento das tensões sociais e étnicas.
Com isso, as festividades destacarão o caminho percorrido pela nação, atrasada e isolada em 1949 quando Mao Tse-tung proclamou, no dia 1; de outubro, diante de uma maré humana na Praça da Paz Celestial (Tiananmen), a República Popular da China, que se tornou uma grande potência econômica, diplomática e militar 30 anos depois de Deng Xiaoping ter aberto as portas para o capitalismo.
Há mais de um ano, o Exército Popular de Libertação (ELP), o maior do mundo, prepara a sua primeira parada em dez anos, e exibirá seu poderio na Tiananmen diante da imagem de Mao, sob os olhares atentos das lideranças de todos os outros grandes exércitos.
"O ELP mantém a sua gloriosa tradição de frugalidade", assegurou o general Gao Jianguo. Mas essa parada pomposa, sobrevoada por 150 aviões, permitirá ao Exército chinês fazer uma demonstração de força.
Serão exibidos 52 tipos de equipamentos militares 100% chineses, sendo que quase 90% serão mostrados pela primeira vez, como os cinco novos tipos de mísseis, incluindo os mísseis balísticos intercontinentais.
O povo também se prepara há meses para esse dia que poderá se tornar um quebra-cabeça logístico, com 200.000 participantes e mais de 8.000 veículos nas vias do centro.
Por volta de 100.000 estudantes e trabalhadores foram mobilizados para o desfile, que terá danças, canções, carros alegóricos coloridos, seguindo a tradição socialista.
Em torno da Tiananmen, onde estarão os líderes do regime, 56 imponentes colunas vermelhas e douradas -- como na bandeira nacional -- foram erguidas para representar as minorias étnicas de um país sacudido em 2008 por protestos no Tibete e em julho por problemas ainda mais graves em Xinjiang.
As minorias "são consideradas atualmente um grande problema" pelo Partido, afirma Jean-Philippe Béja, do Centro de Estudos francês sobre a China Contemporânea (CEFC), em Hong Kong.
Para os moradores de Pequim, os preparativos causaram muita perturbação. A obsessão por segurança do regime levou a uma mobilização de forças policiais ainda mais superior à dos Jogos Olímpicos de agosto de 2008.
Durante as Olimpíadas, o centro da megalópole de 17 milhões de habitantes foi paralisado, com multidões no metrô, hotéis lotados e escolas fechadas.
A maioria dos moradores de Pequim acompanhará essas festividades pela TV, que se empenha há semanas em exibir as campanhas de glorificação do regime.
Nem a imprensa nem as universidades foram autorizadas a promover debates sobre os 60 anos, impedidas sobretudo de avaliar os anos Mao, que registraram dezenas de milhões de mortos do Grande Salto Adiante e na Revolução Cultural, além da repressão subsequente de qualquer dissidência.
"Qualquer debate sobre Mao e sobre o que aconteceu nestes 60 anos é esvaziado", indica Béja, "não há debate: a China está prestes a se tornar um país poderoso e próspero, aí está".