O resgate entre 1992 e 1994 deste esqueleto fossilizado, peça por peça, assim como de dezenas de outros fósseis pertencentes a esta mesma espécie de hominídeo batizado de Ardipithecus ramidus revela características biológicas até então desconhecidas do primeiro elo na evolução do homem desde suas origens.
Este fóssil de uma fêmea batizada "Ardi" é o esqueleto mais antigo conhecido do ramo humano da família dos primatas, que compreende os Homo sapiens assim como as espécies mais próximas do homem do que os chimpanzés ou os bonobos (chimpanzés pigmeus), enfatiza a equipe internacional de paleoantropólogos e de geólogos responsável pelo estudo.
A análise do crânio, dos dentes, da pêlvis, das mãos, dos pés e de outros ossos de Ardi levaram os cientistas a deduzir que, em vida, se tratava de uma fêmea bípede, que pesava 50 kg e media 1,20 metro.
O estudo de Ardi permitiu uma nova compreensão da maneira pela qual os hominídeos - que englobam a família dos grandes símios, entre os quais os humanos, os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos - podem todos descender de um ancestral comum, explicou Giday WoldeGabriel, do Laboratório Nacional de Los Alamos (Novo México), que dirigiu os estudos de datação geológica do local da descoberta.
Estima-se que o último ancestral comum aos humanos e chimpanzés tenha vivido há cerca de seis milhões de anos.
Até a descoberta de Ardi, o elo mais antigo conhecido da evolução do homem era um "homem-macaco" bípede dotado de um pequeno cérebro e que viveu entre um e quatro milhões de anos no passado.
"Lucy", um fóssil de um espécime desta espécie denominada Australopithecus e que tem 3,2 milhões de anos, foi descoberto em 1974, também na Etiópia, a 72 km de onde Ardi foi encontrada 20 anos mais tarde.
Ardi era mais primitiva que Lucy, indicam as análises comparativas de seu esqueleto e de outros restos fossilizados do Ardipithecus, enfatizam os investigadores.
Depois da descoberta de Lucy, os paleoantropólogos esperavam - ao descobrir posteriormente o fóssil do hominídeo mais antigo - encontrar o ancestral comum do homem e do chimpanzé baseando-se nas três grandes semelhanças genéticas entre ambos.
Mas o esqueleto de Ardi não corrobora com esta expectativa, observa Tim White, professor do Centro de Pesquisa sobre a Evolução Humana da Universidade de Berkeley (Califórnia), um dos principais autores desta vasta pesquisa.
"Ardi, ao nos aproximar como nunca do ancestral comum dos macacos e do homem, nos permite realmente imaginar seus traços", explicou. "Esta criatura é de fato um mosaico interesante, nem chimpanzé nem humano", acrescentou, observando que a mão do fóssil é, inclusive, mais primitiva que a de um chimpanzé.
A conclusão surpreendente da análise das características biológicas e morfológicas de Ardi é que os grandes macacos africanos e os humanos seguiram caminhos muito diferentes desde sua separação, depois de seu último ancestral comum, o que torna difícil imaginar como era este último e compreender a evolução humana, explicou White.
"A única maneira de saber com que se parecia este ancestral seria encontrá-lo", concluiu, citando Charles Darwin, que advertia contra as extrapolações feitas a partir dos macacos.