Agência France-Presse
postado em 06/10/2009 15:32
ESTOCOLMO - A liberdade de fazer bobagens e de experimentar desde criança foi uma das chaves para o sucesso dos "mestres da luz", Charles Kao, Willard Boyle e George Smith, que finalmente saíram da sombra de seus laboratórios ao receber nesta terça-feira o Prêmio Nobel de Física.
Kao, nascido em Xangai em 4 de novembro de 1933, é considerado o "pai da comunicação por fibra óptica", por ter sido o primeiro a divulgar publicamente, nos anos 60, a possibilidade de utilizar as fibras para as telecomunicações.
"Desde muito jovem", explicou em entrevista, "eu me divertia fazendo experiências químicas explosivas".
"Eu fazia bolas de barro e colocava água com fósforo e cloreto de potássio dentro delas. Eu as deixava secando e, quando as jogava, elas explodiam", contou.
"Eu gostava de passar tempo com pessoas interessantes, e apreendi lendo, fazendo experimentos", continuou.
Segundo ele, esta grande liberdade, inclusive de fazer bobagens, foi uma das chaves do sucesso. Os pais que repetem sem parar a seus filhos "não faça isso, não fala aquilo cortam aos poucos os caminhos que podem levar a algo interessante", afirmou.
Aposentado desde 1996, obteve seu doutorado em engenharia em 1965 no Imperial College de Londres e fez a maioria de seus estudos na Inglaterra, principalmente nos Standard Telecommunication Laboratories. Também foi vice-reitor da Universidade chinesa de Hong Kong.
Boyle e Smith trabalharam juntos nos laboratórios Bell, em Nova Jersey.
Boyle, nascido em 19 de agosto de 1924 em Amherst, na província de Nova Escócia (Canadá), aprendeu muito sozinho, quando vivia em um povoado distante em Quebec, onde sua mãe foi sua professora até ele entrar para a escola.
Com oito anos, o pai dele pediu que fosse dar de comer aos cachoros, que estavam a cem metros da casa e o jovem Willard teve de enfrentar a neve, o frio e a noite escura.
"Era absolutamente terrível ficar lá, fora, neste pequeno círculo de luz, que vinha da lamparina de óleo", contou ao site science.ca.
Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi piloto da força aeronaval, mas o conflito acabou quando ele mal havia terminado sua formação e nunca saiu em combate. Então retomou os estudos e obteve doutorado em 1959, e três anos mais tarde começou a trabalhar nos laboratórios Bell.
Durante seus trabalhos na Nasa, ajudou a determinar o lugar onde os astronautas deviam aterrissar na Lua. Está aposentado desde 1979.
Como os outros dois premiados, Smith teve uma vida escola atípica: nascido em 10 de maio de 1930 em White Plains, no Estado de Nova York, passou por 14 centros em sete estados distintos até entrar para a Marinha.
"Havia assinado por três anos, mas a Guerra na Coreia durou mais e fiquei quatro anos", constou em um site.
Já na Marinha, dedicada seu tempo livre a estudar matemática no campus da Universidade de Miami, onde estava morando.
Após estudar matemática pura por três anos, em vez de quatro, se aproxima da física. "Queria sujar as mãos, assim me lancei na física experimental", contou.
Obteve o doutorado com uma tese de apenas três páginas. "Era muito curto, mas muito bom", lembrou.
Então entrou no Bell e trabalhou sob a direção de Boyle.
Smith se aposentou em 1986 e, desde então, gosta de navegar ao redor do mundo.