Agência France-Presse
postado em 08/10/2009 13:20
ROMA - O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, privado de sua imunidade judicial, iniciou nesta quinta-feira (8/10) um verdadeiro contra-ataque, voltando-se contra a imprensa, a justiça e o presidente da República, depois de deixar claro que não pretende renunciar a seu cargo.
Após um dos dias mais difíceis de sua carreira política, Berlusconi atacou com veemência o presidente da República italiana, Giorgio Napolitano, a figura mais representativa da democracia parlamentar italiana. Agredir o presidente, eleito pelo parlamento como uma personalidade acima de qualquer partido, é um fato pouco comum na vida política italiana.
"O presidente foi eleito por uma maioria de esquerda. Suas raízes políticas são totalmente de esquerda e foi a pessoa que designou os juízes da Corte Constitucional, o que demonstra de que lado está", disparou Berlusconi falando a uma emissora pública. "Vou mostrar aos italianos de que material sou feito", afirmou ainda na mesma entrevista, durante a qual atacou os juízes por terem "montado julgamentos farsecos, risíveis, absurdos", além de ter ameaçado "ridiculizá-los" diante do país e nas aulas jurídicas.
Ante a perspectiva de voltar ao banco dos réus por acusações de corrupção e falsos balanços, Berlusconi não apenas atacou a maior instituição do país, como também tenta desacreditar seu sistema político. "Não se trata de um gesto improvisado. Ele decidiu opor a própria legitimidade eleitoral à das instituições, que considerada ilegítimas por não terem sido eleitas através do voto direto", afirma um editorial do Il Corriere della Sera.
Il Cavaliere, como é chamado, se considera o "único representante legítimo dos italianos" graças ao apoio das urnas e das pesquisas, que concedem a ele, segundo suas próprias enquetes, 70% de popularidade, afirma ainda o jornal. Uma popularidade que, segundo as pesquisas da imprensa de oposição, diminuiu nos últimos meses por escândalos sexuais até cair a 47% em setembro passado.
"Ele despreza as instituições e o parlamento e só mantém diálogo com os italianos através de seus próprios canais de televisão", comentou o deputado de esquerda Luciano Violante. "A violência dos ataques lançados por Berlusconi são um sinal de fragilidade", explicou Giacomo Marramao, professor de filosofia política. "É como se dissesse: o Estado sou eu e mais ninguém", comentou ainda.
O especialista descarta, no entanto, uma mobilização em massa a favor do milionário em um momento tão delicado da política, marcado também pelos recentes escândalos protagonizados por suas festas com prostitutas de luxo e menores de idade.
Berlusconi corre o grande perigo de perder o poder se a justiça italiana o condenar pelo suborno do advogado inglês David Mills quando for retomado o julgamento pendente. Na véspera, a Corte Constitucional da Itália invalidou a lei que garantia a imunidade penal do chefe de Governo em virtude de uma medida adotada em 2008 após assumir pela terceira vez o poder.
A sentença gerou uma dura reação de Berlusconi, que qualificou de ilegítimo o trabalho da Corte Constitucional e acusou seus juízes de serem "de esquerda".
Os 15 juízes da Corte Constitucional concluíram que a imunidade deve ser determinada por lei constitucional e não por lei ordinária, como a aprovada ano passado.
A Lei Alfano de 2008 congelava todos os julgamentos em curso contra os quatro mais altos dirigentes de Estado durante o lapso de tempo que durasse seu mandato.