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Missão da OEA não consegue fazer o diálogo avançar em Honduras

Agência France-Presse
postado em 08/10/2009 16:31
O deposto presidente de Honduras, Manuel Zelaya, advertiu nesta quinta-feira que o governo de fato está colocando o país à beira do abismo por sua negativa de restituí-lo ao poder, em meio a um diálogo que não demonstra avanços apesar da pressão da missão da Organização dos Estados Americanos.

A negociação se complicou depois que o presidente de fato, Roberto Micheletti, reafirmou aos chanceleres e secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, sua negativa de devolver a presidência a Zelaya.

"Se hoje sou o obstáculo, vou fazer a minha parte, mas exijo o mesmo deste senhor", destacou Micheletti em referência a Zelaya, durante sua reunião com Insulza e com os chanceleres encarregados de promover o diálogo para superar a crise hondurenha, gerada pelo golpe de Estado de 28 de junho passado.

A posição de Micheletti bloqueia um ponto fundamental do Acordo de San José, o plano do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que serve de base às negociações e estabelece como prioridade a restituição de Zelaya.

Na abertura das negociações na véspera, transmitida ao vivo pela TV local, Micheletti também disse, em tom firme, que "não há modo de impedir" as eleições de 29 de novembro, que a comunidade internacional não planeja reconhecer caso seja celebrada sob o regime de fato.

"As eleições vão acontecer no dia 29 de novembro. Apenas um ataque ou uma invasão vão nos impedir", afirmou o presidente de fato.

Micheletti voltou a acusar Zelaya de tentar permanecer no poder, por mais quatro anos, por meio de uma reforma ilegal da Constituição, que permitiria a reeleição presidencial.

Zelaya, por sua vez, disse nesta quinta que o governo de fato está levando Honduras para o abismo ao recusar a única saída aceita mundialmente para a crise, que é a restituição do presidente constitucional.

"Micheletti está levando o país para o abismo, ao agir como se vivesse em outro mundo, como se Honduras fosse uma grande potência", disse Zelaya a um canal de televisão.

O deposto presidente disse que o esforço pela restituição da democracia "não vai ser em vão, embora obter uma vitória vá custar porque não é fácil lutar quando há violência e não há transparência".

Já José Miguel Insulza afirmou na noite de quarta-feira que está claro que a posição do presidente de fato de Honduras não mudou, mas insistiu que o diálogo deve prosseguir até um acordo.

"Temos que dialogar, tem que haver um acordo, as partes têm que aceitar, seguir conversando", declarou Insulza após um encontro com Zelaya, junto a uma delegação de chanceleres, na embaixada do Brasil.

"Está claro que a posição de Micheletti não mudou, mas não devemos fazer conclusões agora", completou.

Por fim, a AFP teve acesso a documentos oficiais do departamento de Justiça dos Estados Unidos que afirmam que governo de fato de Honduras contratou uma empresa de lobby chamada Chlopak, Leonard, Schechter and Associates por 292.000 dólares para atuar junto à opinião pública americana.

O objeto do contrato é "contar com os serviços de consultoria de uma empresa de relações públicas especializada em situações políticas especiais, a fim de implementar um plano estratégico de comunicação para obter um melhor posicionamento do governo ante a opinião pública mundial", segundo uma cópia do documento.

Um porta-voz da empresa, Juan Cortiña, confirmou à AFP que trabalha para Honduras, mas se recusou a entrar em detalhes.

A companhia trabalha para outros governos estrangeiros, como o nicaraguense, o espanhol, o mexicano ou o colombiano, assim como para instituições como a Cruz Vermelha americana.

Esta operação de relações públicas para o governo de fato, que não foi reconhecido pela comunidade internacional, foi mencionada nesta quinta-feira pelo New York Times.

De acordo com o jornal, a campanha "teve o efeito de obrigar o governo a enviar sinais contraditórios ao governo de fato, que os vê como sinais de incentivo".

A campanha de lobby já custou 400.000 dólares em firmas de advogados e de relações públicas que mantêm relações estreitas com a secretária de Estado Hillary Clinton e o influente senador republicano John McCain.

O lobby recebeu o apoio de três altos representantes do governo americano - Otto Reich, Roger Noriega e Daniel Fisk - que consideram o caso de Honduras como uma batalha contra a influência da Venezuela e de Cuba.

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