Agência France-Presse
postado em 11/10/2009 15:47
Após a asinatura, no sábado (11/10), dos históricos acordos entre Turquia e Armênia, as primeiras dificuldades começaram a aparecer neste domingo no caminho da normalização das relações entre os dois países, com um histórico secular de conflitos.Antes que os parlamentos dos dois países ratifiquem os acordos, como previsto, dois obstáculos surgem no horizonte: primeiro, o dilema do Alto Karabakh, que deixou a Turquia em uma situação difícil perante seu aliado Azerbaidjão; segundo, a questão do genocídio armênio - que, de acordo com algumas fontes, quase causou o cancelamento da assinatura dos acordos, em Zurique.
Menos de 24 horas depois da cerimônia, na qual os acordos foram assinados pelos ministros das Relações Exteriores dos dois países, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, condicionou a abertura da fronteira turco-armênia (ação prevista nos termos) a um avanço na disputa do Alto Karabakh, enclave armênio em território azeri.
[SAIBAMAIS]"Queremos que todas as fronteiras sejam abertas ao mesmo tempo (...). Mas, enquanto a Armênia não tiver se retirado dos territórios do Azerbaidjão que ocupa, a Turquia não pode ter uma atitude positiva a este respeito", afirmou Erdogan, durante uma reunião em Ancara com dirigentes de seu partido.
O premiê, no entanto, garantiu que apresentará os acordos ao parlamento para ratificação.
Os armênios tomaram o controle do Alto Karaback e dos territórios arzis adjacentes após uma guerra de seis anos (1988-1994), que levou a Turquia a fechar sua fronteira com a Armênia em 1993 para apoiar o Azerbaidjão, seu aliado.
Horas antes da declaração de Erdogan, o ministro das Relações Exteriores arzi condenou publicamente o acordo. "A normalização das relações entre Turquia e Armênia antes da retirada das forças armênias dos territórios arzis ocupados é contrária aos interesses do Azerbaidjão e obscurece as relações fraternais entre o Azerbaidjão e a Turquia", afirmou.
Outra pedra no caminho da normalização é a questão do genocídio, que teria provocado um atraso de três horas na assinatura dos acordos, segundo uma fonte diplomática armênia, que pediu o anonimato. "As objeções da parte armênia estavam relacionadas a formulações inaceitáveis relativas ao processo de reconhecimento do genocídio armênio contidas na declaração turca", indicou a fonte.
Para o especialista turco Sedat Laçiner, o incidente ilustra a precária situação em que se encontra o governo armênio em relação a este ponto, crucial para sua opinião pública. Os acordos não mencionam a palavra genocídio, mas preveem a instauração de uma comissão histórica para estudar o tema.
"O elo fraco no processo futuro é o governo armênio, que precisa enfrentar uma grande pressão da diáspora e da oposição, mas não poderá utilizar a palavra genocídio durante este processo", estima Laçiner, pesquisador do Instituto USAK, destacando a "dimensão emocional" do problema na Armênia.
As relações entre Turquia e Armênia são marcadas por matanças e deportações de armênios entre 1915 e 1917, que, segundo os armênios, deixaram mais de 1,5 milhão de mortos. A Turquia, no entanto, nega que tenha havido genocídio, e fala entre 300.000 e 500.000 vítimas.