Em breve, as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos contarão com novos atores. Os nomes dos próximos embaixadores já são conhecidos, mas detalhes ainda impedem a confirmação de Mauro Vieira e Thomas Shannon para os postos de Washington e Brasília, respectivamente. Nos Estados Unidos, o entrave é representado pela oposição de apenas um senador na Comissão de Relações Exteriores. No Brasil, a ida de Vieira depende de duas movimentações: a confirmação do atual secretário-geral das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, para a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, e a do atual embaixador em Washington, Antônio Patriota, para o lugar de Guimarães.
A escolha dos dois novos embaixadores tem sido comemorada pelos dois lados, já que ambos possuem grande experiência em assuntos da região ; Vieira é embaixador em Buenos Aires desde 2004 e Shannon, subsecretário de Estado para o continente americano desde 2005. ;Tradicionalmente, o Brasil manda diplomatas experientes a Washington. E a indicação do Vieira é positiva, porque ele tem no currículo o fato de ter sido embaixador no segundo posto mais importante da região;, avalia o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer. ;Patriota foi enviado a Washington muito verde, nunca tinha ocupado um posto de embaixador.;
Para Fleischer, Vieira tem grandes desafios pela frente. ;Terá de mostrar muito jogo de cintura, porque os EUA são um país grande, com muitos consulados-gerais para administrar, e restam muitos conflitos comerciais e opiniões políticas diferentes entre Brasil e EUA, como o posicionamento sobre Honduras e Irã;, destaca o cientista político. Segundo ele, um embaixador em Washington precisa ;lidar com todas as forças políticas dentro dos EUA;. ;Não é só com o presidente Obama e o Departamento de Estado. Tem vários grupos de empresários, muitas ONGs voltadas à América Latina, algumas delas críticas ao Brasil.;
O fato de Vieira assumir a embaixada em Washington a pouco mais de um ano da saída do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do poder não é visto como problema pela professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Cristina Pecequilo, especialista em EUA. ;Se houver continuidade de agenda (no governo), não vejo como uma fase de transição. Além disso, a expectativa é de que os esforços que vêm sendo desenvolvidos nas relações bilaterais continuem. Os EUA permanecerão como o parceiro individual mais importante do Brasil;, afirma.
Nova geração
Essa será a segunda indicação consecutiva de um diplomata relativamente jovem para Washington: Vieira tem 58 anos, e Patriota assumiu a embaixada com 52, enquanto Rubens Barbosa e Roberto Abdenur, que antecederam aos dois, chegaram aos EUA com 61 e 62 anos, respectivamente. Pecequilo encara os novos nomes como uma ;mudança importante, uma troca de geração, e a partir daí uma nova realidade;.
Thomas Shannon também assumirá a embaixada norte-americana em Brasília na casa dos 50 anos, mas trazendo na bagagem a experiência do cargo mais importante da diplomacia americana para a América Latina. ;Shannon é um dos nossos melhores diplomatas e conhece a região como nenhum outro. Sua escolha para o Brasil demonstra a importância dessa relação bilateral para o governo Obama;, ressalta o especialista Philip Levy, do American Enterprise Institute, em Washington.
Novas faces
<--
--><--
--><-- -->
Embaixada do Brasil em Washington
Sai: Antônio de Aguiar Patriota, 55 anos, ocupou o posto desde fevereiro de 2007
Entra: Mauro Luiz Iecker Vieira, 58 anos. Natural de Niterói (RJ), formou-se em direito pela Universidade Federal Fluminense, em 1973, e no mesmo ano ingressou na carreira diplomática. Seu primeiro posto no exterior foi justamente em Washington, de 1978 a 1982. Depois, serviu no Uruguai, de 1982 a 1985, e no México, entre 1990 e 1992. Enviado a Paris de 1995 a 1999, voltou ao Brasil para assumir como chefe de gabinete do secretário-geral, entre 1999 e 2002. Em janeiro de 2003, tornou-se chefe de gabinete do chanceler Celso Amorim. Seu primeiro posto como embaixador foi em Buenos Aires, o segundo mais importante do continente, onde está desde 2004. Teve papel fundamental em episódios-chave das relações Brasil-Argentina nos últimos anos, como a tensão entre a Petrobras e o governo de Néstor Kirchner.
Embaixada dos EUA em Brasília
Sai: Clifford Sobel, 60 anos, no posto desde agosto de 2006
Entra: Thomas A. Shannon, 51 anos. A maioria dos postos ocupados por ele em 25 anos de carreira diplomática se concentra na América Latina, o que o tornou um dos nomes mais importantes do Departamento de Estado para a região. Entre 1989 e 1992, esteve no Brasil, onde aprendeu a falar português fluentemente. Desde outubro de 2005, é subsecretário de Estado responsável pelo continente americano. Antes, tinha sido assistente especial do presidente e diretor de Assuntos do Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional, de 2003 a 2005. Foi vice-representante dos EUA na Organização dos Estados Americanos, entre 2000 e 2001. Sob Bill Clinton, atuou como diretor de Negócios Interamericanos do Conselho de Segurança Nacional.