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Acordo favorece retorno de Zelaya

Presidente deposto e governo de fato estudam fórmula acertada por negociadores

postado em 15/10/2009 08:34
Honduras começou ontem a sair das profundezas da crise política: finalmente, as delegações do presidente deposto, Manuel Zelaya, e do interino, Roberto Micheletti, chegaram a um acordo sobre a recondução de Zelaya ao poder, um dia antes de terminar o ultimato dado por ele para uma solução negociada. "Chegou-se a um consenso no documento sobre o ponto número seis, relacionado à restituição dos poderes do Estado à situação prévia ao dia 28 de junho de 2009", declarou em entrevista coletiva o ministro de Interior e negociador de Zelaya, Víctor Meza. Ele se referia à data em que os militares removeram o presidente da residência oficial e o deportaram para a Costa Rica.

A restauração de Zelaya na presidência vinha sendo rejeitada taxativamente por Micheletti, a despeito de ter sido uma exigência incondicional da Organização dos Estados Americanos (OEA). "Conseguimos entrar em consenso sobre um texto único que será submetido à discussão e análise do presidente Manuel Zelaya e do senhor Roberto Micheletti", acrescentou Meza. O negociador não quis dar mais detalhes sobre a fórmula de consenso, alegando que os representantes da mesa de diálogo decidiram "manter o texto em sigilo enquanto não se souber diretamente a opinião de seus ;mandantes; (Zelaya e Micheletti)".

Até quarta-feira, as delegações já haviam avançado em 90% das bases do Acordo de San José, redigido pelo presidente costa-riquenho, Óscar Arias. Os representantes concordavam em formar um governo de reconciliação e não outorgar anistias políticas. Também obrigavam Zelaya a renunciar aos planos de convocar uma Assembleia Constituinte, se reconduzido ao governo.

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas hondurenhas, general Romeo Vázquez, afirmou que a crise está "quase no final". "Avançamos bastante, estamos praticamente no fim de uma crise", declarou Vázquez à rádio HRN, de Tegucigalpa. Meza, por sua vez, opinou que "não falaria no fim da crise política, mas em uma saída da crise". "Coincidimos em que um texto dessa natureza poderia ser a porta para encontrar a saída", ressaltou.

No entanto, a volta de Zelaya não significará sossego para os movimentos sociais em Honduras. Ontem, em Salamanca, em uma conferência organizada pelo Partido Comunista da Espanha, o líder da Frente Nacional de Resistência contra o golpe de Estado em Honduras, José Filadelfo Martínez, afirmou que o movimento "não se contentará" com o retorno de Zelaya à presidência.

Para Martínez, o grande desafio será que "as negociações atuais não sirvam apenas para que haja mais uma eleição em novembro", mas que "se produza um acordo nacional que inclua a possibilidade de reformar não só a Constituição, mas também o marco jurídico que permita aos camponeses terem acesso à terra, e às crianças, receber uma educação de qualidade". Até o fechamento desta edição, os delegados hondurenhos continuavam observando um recesso, e seu retorno à mesa de negociações era aguardada em um hotel da capital, Tegucigalpa.

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