Agência France-Presse
postado em 22/10/2009 14:54
MONTEVIDÉU - Uruguai realiza domingo eleições presidenciais e para renovar o Congresso, nas quais o aspirante da coalizão governista de esquerda Frente Ampla, o ex-guerrilheiro José Mujica aparece como favorito, embora pesquisas antecipem a possibilidade de um segundo turno com o ex-presidente liberal Luis Lacalle.
Mujica esteve 14 anos preso por sua participação na guerrilha. Para afastar desentendimentos, sobretudo no setor empresarial, escolheu como vice Anilo Astori, de perfil mais moderado.
A poucas horas do encerramento da campanha à meia-noite desta quinta-feira (22/10), as pesquisas antecipam 45,5% e 46% dos votos para Mujica e entre 27% e 30% para Lacalle, aspirante do Partido Nacional (PN, centro-direita); no total, estão sendo convocados 2.584.219 eleitores.
O candidato do Partido Colorado, Pedro Bordaberry, filho do ex-ditador Juan Bordaberry (1973-1976), receberia entre 13% e 14% dos votos, o candidato do Partido Independente Pablo Mieres entre 2% e 3%, enquanto os indecisos se situam entre 6% e 9%; os demais votos se dividem entre a Assembleia Popular (esquerda), e votos em branco e nulos.
Mujica e seu companheiro de chapa, o ex-ministro da Economia Danilo Astori, estabeleceram quarta-feira um pacto nacional para estimular políticas de Estado voltadas para a educação, a energia, o meio ambiente e a segurança pública.
A coalizão governista integrada pelo ex-guerrilheiro José 'Pepe' Mujica e pelo ex-ministro da Economia Danilo Astori ofereceu os acordos em uma entrevista coletiva, destacando as coincidências entre os programas de governo dos adversários.
O Partido Nacional (centro-direita), principal formação de oposição, cujo candidato é o ex-presidente Luis Lacalle (1990-1995), se declarou disposto a um pacto nacional, mas criticou a proposta da FA a poucos dias das eleições. O candidato a vice-presidente do PN, Jorge Larrañaga, disse que a iniciativa é "muito pouco crível, muito feita para a tribuna, muito próxima à instância eleitoral", mas destacou que o PN "está disposto a um pacto nacional".
Pedro Bordaberry, o candidato à presidência mais jovem da eleição de 25 de outubro, com 49 anos, filho do ex-ditador Juan Bordaberry (1973-1976), representa uma renovação do tradicional Partido Colorado e uma mudança de geração no Uruguai, com projetos pragmáticos. Nascido em Montevideu em 28 de abril de 1960, o advogado Bordaberry se afastou do exercício da profissão no início deste ano para se dedicar por inteiro de sua carreira política, que havia começado no início da década de 90.
Exerceu cargos nos ministérios da Indústria, Energia e Minérios, e de Turismo e Esporte, e ostentou a titularidade de ambas as carteiras durante o governo colorado de Jorge Batlle (2000-2005).
Após a derrota nas eleições de 2004 do Partido Colorado, com 10% dos votos após ser o principal ator da política uruguaia por mais de um século, Bordaberry se apresentou como candidato à prefeitura de Montevidéu nas municipais de maio de 2005, conseguindo 27% dos votos. Agora, busca uma boa votação nacional.
O atual e primeiro presidente de esquerda do Uruguai, Tabaré Vázquez, conta, ao final de seu mandato,, com mais de 60% de aprovação popular, com um balanço favorável nas áreas econômica, social e militar, mas com uma política externa se muito vigor e um fracasso no campo da segurança.
O cientista político Adolfo Garcé afirmou à AFP que do ponto de vista da administração da economia, o governo usufruiu da boa conjuntura econômica internacional que durou até a crise global, e o Uruguai foi um dos poucos países do mundo a não sofrer recessão.
O analista Juan Carlos Doyenart considera que o governo de Vázquez, que entregará o poder no dia 1º de março ao vencedor das eleições de 25 de outubro - que pode ser decidida em segundo turno em 29 de novembro - teve "uma administração acertada da macroeconomia, o que permitiu aproveitar a conjuntura".
Os dois destacaram as políticas sociais de combate à pobreza e redução do desemprego. O índice de pobreza caiu de 26% em 2007 a 20,5% em 2008, enquanto a indigência passou de 2% a 1,5%, segundo o Instituto Nacional de Estatística.