postado em 24/10/2009 11:01
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nunca escondeu que o Irã seria uma de suas prioridades na política externa. No entanto, o crescente envolvimento em discussões internas e externas sobre o programa nuclear iraniano tem consumido as energias diplomáticas da nova administração. Em consequência, o processo de paz entre israelenses e palestinos parece ter ficado em banho-maria. Para especialistas, a explicação não está só nas próprias demandas de Israel, aliado preferencial de Washington, que aponta o Irã ; e não o conflito com os árabes ; como a maior ameaça para a estabilidade na região. Pesam também as dificuldades dos EUA para avançar com as negociações de paz. [SAIBAMAIS];É compreensível que o governo Obama mantenha o foco mais sobre o Irã do que sobre o conflito entre israelenses e palestinos, principalmente porque deve ter entendido ; como os governos anteriores ; que esse conflito pode ser impossível de se resolver;, avalia Mark Katz, especialista em Oriente Médio da George Mason University. De fato, os EUA permanecem de mãos atadas em relação ao processo de paz. Após o improdutivo encontro com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, Obama não conseguiu avançar em nada.
Na semana passada, o presidente americano recebeu um relatório sobre o status dos esforços de paz dos EUA na região, e a Casa Branca instou os dois lados a ;fazerem mais; para abrir caminho a novas negociações. Obama telefonou para Abbas e reiterou seu ;compromisso pessoal; com a criação do Estado palestino. Em breve, o enviado especial dos EUA, George Mit-chell, chegará à região para tentar, uma vez mais, relançar o processo de paz. Mas nada além de conversas, por enquanto.
O marasmo nas negociações, que ainda competem pela atenção de Obama com o recrudescimento do conflito no Afeganistão e a escalada terrorista no Paquistão, foi criticado na última segunda-feira pelo rei da Jordânia, Abdullah II. ;Tenho visto pessoas em Washington falarem sobre o Irã, e o Irã de novo, e sempre o Irã. Mas eu continuo insistindo no argumento palestino: o conflito entre israelenses e palestinos é a ameaça mais séria à estabilidade da região e do Mediterrâneo;, disse o monarca ao jornal italiano La Repubblica.
Conflitos ligados
Para Katz, o rei jordaniano pode até estar certo sobre a pouca atenção dada ao conflito na região do Mediterrâneo, mas não há como dissociar os dois desafios. ;Mesmo se houver uma ponta de esperança de que o conflito possa ser resolvido, os israelenses não irão fazer concessões, pois acreditam que o Irã constitui uma ameaça a seu país;, destaca. ; Então, trabalhar na questão nuclear iraniana pode, de fato, ser importante para fazer avançar no processo de paz no Oriente Médio.;
O presidente da Fundação para a Defesa de Democracias, Clifford May, concorda: ;A ideia de que, de alguma maneira, o conflito no Oriente Médio possa ser resolvido ignorando a questão iraniana não é séria;. Segundo o especialista, a paz entre israelenses e palestinos não será difícil de alcançar se os ;dilemas do Irã e do jihadismo militante forem resolvidos;.
O diretor de Ameaças Transnacionais do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), Arnaud de Borchgrave, porém, acredita que o fato de os EUA estarem aparentemente mais preocupados com o Irã está diretamente relacionado aos interesses do Estado judeu. ;Israel quer atrasar todo o processo de negociações com os palestinos. Os líderes do Likud dizem que os árabes moderados já reconhecem que a principal ameaça para a região é o Irã, e esperam que os EUA apliquem sanções mais duras (contra Teerã) até o fim do ano.;
NA LINHA DE FOGO
No próximo mês, duas visitas desviarão para o Brasil o eixo da discussão sobre a paz no Oriente Médio. Na segunda semana de novembro, o presidente de Israel, Shimon Peres, chega a Brasília. No dia 23, está prevista a vinda do líder iraniano, Mahmud Ahmadinejad. A um mês da visita, a mobilização da comunidade judaica para impedi-la recomeçou. Na última terça-feira, o grão rabino Asquenazi de Israel, Yona Metzger, esteve com o presidente do Senado, José Sarney, e pediu sua ajuda para evitar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receba o iraniano. ;Falei da dor que sentimos. É muito triste saber que o Brasil vai receber um homem que disse publicamente querer destruir nosso país;, disse Metzger.