Agência France-Presse
postado em 25/10/2009 12:28
TEGUCIGALPA - Nada de fruta, vidro ou alumínio. Nem tudo passa pelos postos de controle em que policiais e militares controlam o que entra na "zona zero", a embaixada do Brasil que abriga há mais de um mês o destituído presidente de Honduras Manuel Zelaya.
Chamada de "operação tortilla brasileira" pelo representante em Honduras do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Sérgio Guimarães, a missão humanitária abastece de alimentos, roupas e remédios Zelaya e as quase 40 pessoas que permanecem ao lado dele na sede diplomática.
"Havia muita dificuldade para levar à embaixada o que os ocupantes precisam, por isto nos dispusemos a fazer. A 'tortilla' não existe no Brasil, mas é o alimento que entra todos os dias", conta Guimarães.
Cercada por 200 membros das forças de segurança, apenas um veículo do Unicef pode se aproximar da embaixada, mas perto do primeiro posto policial. As caixas e bolsas passam para um carro da polícia, que se aproxima ainda mais da embaixada, até um segundo posto de controle. "São os 500 metros mais difíceis e longos da minha vida", afirma Guimarães.
Ele afirma que apesar de terem interrompido a revista dos alimentos com cães farejadores, o controle aumenta como a pressão psicológica utilizada contra a sede: música alta durante a madrugada, rampas de francoatiradores e ondas magnéticas que produziam dores de cabeça, neutralizadas pelos ocupantes com forros de papel alumínio nas paredes.
Guimarães explica que a 'operação tortilla brasileira" enfrenta os sete mandamentos da polícia: 1. As coisas de vidro não passam. 2. A comida só passa em caixas de poliuretano. 3. Nada de papel alumínio. 4. Só passam embalagens fechadas. 5. Lâmpada queimada, lâmpada trocada. 6. Cortador de unhas: deixa hoje e é devolvido amanhã. 7. Frutas apenas com receita médica.
"Esta é a primeira vez que temos que ir ao médico para que prescreva frutas. Estão cada vez mais estritos. Não deixam passar agulhas, fios, baterias e muitos alimentos", comenta Guimarães. Além de revistar os pacotes, os policiais também fazem fotos e vídeos.
Três grupos recebem o material enviado pela operação: Zelaya, a família e os funcionários da embaixada; os jornalistas; os seguidores do presidente deposto.