postado em 25/10/2009 15:04
HAIA - Radovan Karadzic, ex-líder político dos sérvios da Bósnia detido em 2008, será julgado a partir de segunda-feira (26/10) pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) para a antiga Iugoslávia, em um processo por genocídio 14 anos após o fim da guerra da Bósnia, na ausência do acusado, que anunciou a decisão de boicotar o início do processo.
A acusação afirma que Karadzic, 64 anos, participou de um empreendimento criminoso comum que tinha como objetivo expulsar para sempre os muçulmanos e os croatas da Bósnia do território reivindicado pelos sérvios da Bósnia. Mas na quinta-feira Karadzic informou por escrito aos juízes do TPI para a antiga Iugoslávia que vai boicotar a abertura do processo.
"Informo aos senhores que minha defesa não está preparada para meu julgamento, que se inicia em 26 de outubro, e por consequência não me apresentarei ante os senhores neste dia", afirma Karadzic no documento divulgado por seu advogado, Peter Robinson. O ex-líder político dos sérvios da Bósnia, que se defende sozinho no tribunal, já havia solicitado aos juízes o adiamento do início do julgamento.
Detido em Belgrado em 21 de julho de 2008, após 13 anos de fuga e uma longa perseguição, Karadzic, que se declara inocente, é acusado de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra durante o conflito na Bósnia-Herzegovina (1992-1995) e pode ser condenado a prisão perpétua.
"Este processo é importante para as vítimas que por fim vislumbram a possibilidade de justiça", afirma o procurador do TPI, Serge Brammertz. "Quando uma mulher conta que 21 membros de sua família foram assassinados e ignora onde estão os corpos de alguns, é possível medir a importância do julgamento", destacou o magistrado belga.
O massacre de Srebrenica, em que foram executados 7 mil jovens e adultos muçulmanos em julho de 1995, é a peça central da acusação, ao lado dos tiros e bombardeios contra Sarajevo, que mataram 10 mil civis durante toda a guerra.
Radovan Karadzic também é acusado por centenas de assassinatos de civis cometidos nas ruas, casas e campos de prisioneiros de 19 municípios bósnio, em Vlasenica, Kljuc, Prijedor, Sanski Most, entre outros. Mas o procurador lamenta a ausência de Ratko Mladic, ex-comandante dos sérvios da Bósnia, que continua fugitivo. "Karadzic era o comandante político, Mladic o general militar. Deveriam estar juntos diante dos juízes".
Radovan Karadzic, que desejava ao lado do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic fundar uma "Grande Sérvia" que incluísse 60% da Bósnia, sempre alegou incoerência.
O ex-presidente da República Sérvia autoproclamada da Bósnia-Herzegovina e comandante supremo do Exército, afirma que nunca planejou, incitou, ordenou, ajudou ou estimulou os crimes pelos quais é acusado.
Em agosto afirmou que as "grandes potências" orquestraram a guerra da Bósnia, que deixou 100 mil mortos e 2,2 milhões de deslocados, para "cumprir seus objetivos imperialistas".
Radovan Karadzic alega ser beneficiado por um acordo de imunidade negociado em 1996 com o representante americano Richard Holbrooke, arquiteto dos acordos de Dayton que acabaram com a guerra da Bósnia, em troca de sua retirada da vida pública. Mas o TPI declarou não ter relação com o eventual acordo.
O ex-líder político dos sérvios da Bósnia optou por se defender sozinho, como Slobodan Milosevic, morto em 2006 durante o julgamento em Haia, iniciado quatro anos antes. O processo pode durar pelo menos dois anos.