Agência France-Presse
postado em 26/10/2009 15:50
O Vaticano retomou nesta segunda-feira o "diálogo doutrinal" com o movimento ultraconservador lefebvrista depois da suspensão da comunhão dos bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, decisão que causou escândalo na Igreja, principalmente pela reabilitação de um bispo que nega o Holocausto nazista.
"A reunião transcorreu num clima cordial, respeitoso e construtivo", anunciou o Vaticano em comunicado divulgado ao término do encontro.
[SAIBAMAIS]Esta foi a primeira reunião de fundamentalistas lefebvristas com as autoridades da Santa Sé depois da grave crise que gerou dentro e fora da Igreja a suspensão da excomunhão decretada por João Paulo II em 1988 aos bispos ultraconservadores do movimento fundado pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre e que determinou há 20 anos um cisma.
O encontro foi realizado no Palácio do Santo Ofício, sede da Congregação para a Doutrina da Fé e da Comissão Ecclesia Dei, criada então para tentar reabsorver o primeiro cisma do século XX.
"Estabelecemos os pontos mais importantes de caráter doutrinário que vão ser tratados durante as reuniões que serão celebradas duas vezes por mês nos próximos meses", explicou o Vaticano.
Entre os problemas que ainda persistem, figuram, segundo a nota da Santa Sé, "o conceito de tradição, o missal de Paulo VI, a interpretação do Concílio Vaticano II em continuidade com a tradição católica, e outros temas de unidade da Igreja".
Outros temas de debate são "o ecumenismo, a relação entre o cristianismo e as religiões não-cristãs, assim como a liberdade religiosa", afirma o comunicado.
A reunião durou três horas e se centrou no método e na organização do trabalho.
"Com estas reuniões, se abre uma nova fase para as relações entre os fundamentalistas e o Vaticano", declarou o porta-voz do Papa, padre Federico Lombardi.
Bento XVI deseja reintegrar os lefebvristas à Igreja; no entanto a suspensão da excomunhão dos bispos pressupõe que estes se submetam à autoridade papal.
A Fraternidade de São Pio X fo fundada em 1969 em Econe (Suíça) pelo monsenhor Lefebvre, que foi excomungado junto com os demais membros do movimento em 1988.
A Fraternidade de São Pio X rejeita qualquer abertura e renovação dentro da Igreja e defende a celebração da missa em latim, segundo o missal de Pio V, do século XVI, que caiu em desuso durante o Concílio do Vaticano II.
Em 2007, Bento XVI voltou a autorizar, através de um decreto, a celebração da missa em latim, como resposta às exigências dos integristas.
Em 24 de janeiro de 2009, o Vaticano anunciou que Bento XVI suspendeu a excomunhão de quatro bispos ultraconservadores, entre eles o britânico Richard Williamson, que nega a existência do Holocausto, o que levantou uma onda de protestos dentro e fora da Igreja.
Dias depois, para aplacar os ânimos, Bento XVI pediu em uma carta aos bispos de todo o mundo que acabassem com as críticas para não favorecer a divisão.
Os fundamentalistas acreditam que o Papa concederia a eles uma prelatura pessoal, como a concedida por João Paulo II ao movimento conservador católico Opus Dei, com sua própria estrutura hierárquica.