postado em 27/10/2009 08:27
Os Estados Unidos viveram ontem, no Afeganistão, o dia mais sangrento dos últimos quatro anos. Um helicóptero caiu após dar cobertura em um combate com insurgentes da milÃcia islâmica Talibã e supostos traficantes de drogas, próximo à provÃncia de Badghis (oeste). Ao menos sete soldados e três agentes da Drug Enforcement Administration (DEA) - a agência norte-americana de repressão a entorpecentes - morreram. Onze militares dos EUA, um civil norte-americano e 14 afegãos também ficaram feridos. Em um segundo episódio, dois helicópteros da Marinha, de modelos UH-1 e AH-1 Cobra, colidiram em pleno voo, matando quatro soldados e ferindo dois. O porta-voz do Talibã, Qari Yusuf Ahmadi, assumiu a responsabilidade pelos dois incidentes e afirmou à agência de notÃcias France-Presse não ter condições de fornecer provas que corroborrem sua afirmação.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) garantiu que as quedas não foram motivadas por fogo inimigo. "Essas tragédias destacam os riscos que nossas forças e nossos parceiros enfrentam todos os dias", declarou Wayne Shanks, porta-voz da Força de Assistência em Segurança Internacional. "Cada morte é uma tremenda perda para a famÃlia e os amigos. Nosso luto é agravado quando temos uma perda significativa em um único dia."
"Os talibãs estão ficando mais fortes a cada dia. Eles têm avançado de modo prolongado pelo norte de meu paÃs", afirmou ao Correio o contador afegão Ajmir Imtiaz, 22 anos. Por telefone, Haroun Mir - diretor do Centro para Pesquisas e Estudos PolÃticos do Afeganistão (ACRPS, pela sigla em inglês) -, explicou que a pressão do Talibã levou os EUA a atrasarem o envio de suprimentos à s tropas. "É perigoso utilizar comboios para o transporte de suprimentos. Por isso, mais helicópteros do que o normal são usados e têm de voar muito alto por causa das grandes montanhas. O clima de deserto também é desafiador para os militares", afirmou.
Segundo o analista, testemunhas afegãs contaram que o aparelho norte-americano foi abatido em Bagdhis. "Um vÃdeo deve ser divulgado dentro de poucos dias", assegurou. Até ontem, 887 norte-americanos tinham sido mortos no Afeganistão desde outubro de 2001, quando o então governo de George W. Bush iniciou uma grande ofensiva para derrubar o Talibã e capturar Osama bin Laden, lÃder da rede terrorista Al-Qaeda.
No campo polÃtico, Obama se reuniu com assessores para decidir sobre o envio de 40 mil soldados ao Afeganistão e prometeu "não se apressar". Em Cabul, o candidato Abdullah Abdullah impôs condições para disputar o segundo turno com o presidente, Hamid Karzai. Ele exige a destituição do chefe e de 200 membros da Comissão Eleitoral Independente.
Análise da notÃcia
O dilema de Obama
A morte de 14 norte-americanos e a nÃtida deterioração da segurança no Afeganistão deixam o presidente Barack Obama em maus lençóis. Os Estados Unidos sequer conseguiram pacificar o Iraque %u2014 o atentado de sábado em Bagdá, com 160 mortos e 540 feridos, é prova disso %u2014, o Paquistão está à mercê do terrorismo, o Iêmen e a Somália firmam-se como bastiões da rede Al-Qaeda. Se o cenário externo ao Afeganistão mostra-se preocupante, os ventos que sopram de Cabul são tempestuosos: as eleições de 7 de novembro podem ser a oportunidade que os talibãs esperavam para disseminar o medo e a morte na capital e na provÃncia de Helmand (leste).
Enquanto comandante-em-chefe dos EUA, Obama terá que arcar com as responsabilidades sobre novas baixas ao dividir suas tropas entre Paquistão e Afeganistão. Talvez os combates com o Tehrik-i-Taliban Pakistan, no Waziristão do Sul, sejam mais arriscados para a Casa Branca, que nem por isso pode desviar o foco do território afegão. A abertura de nova frente de batalha, contra um inimigo disposto a matar e morrer, e a possibilidade de uma aliança com Islamabad se esvair - dependendo do número de civis atingidos - são o ônus de uma missão quase impossÃvel: estabilizar essa região da Ãsia. Uma tarefa que pode custar tempo, dinheiro e muitas vidas. (RC)
Eu acho...
"Os talibãs atuam como guerrilha, com pequenos grupos bastante ativos. Eles se movimentam bastante pelo território afegão e usam bombas plantadas em estradas contra comboios. Também utilizam atacantes suicidas contra a população civil. Apesar de não serem uma força militar, conseguiram tirar proveito do vácuo de poder que se instalou no paÃs após sua destituição do poder. As forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não têm feito o bastante para fornecer proteção. A decisão de Obama de aumentar as tropas em 40 mil soldados levará tempo para surtir efeito"
Haroun Mir, analista polÃtico afegão
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