Agência France-Presse
postado em 28/10/2009 11:32
ISLAMABAD - Um atentado deixou 92 mortos em Peshawar, noroeste do Paquistão, nesta quarta-feira (28/10), poucas horas depois da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, ter iniciado uma visita ao país para reforçar as relações dos Estados Unidos com um aliado crucial na luta contra o extremismo islâmico.
O atentado com carro-bomba em um mercado lotado de Peshawar, a maior cidade do noroeste do Paquistão, deixou pelo menos 92 mortos, segundo o balanço divulgado por fontes médicas e oficiais. "Noventa e duas pessoas morreram e 217 ficaram feridas na explosão", afirmou uma fonte do principal hospital público da cidade, o Lady Reading Hospital.
"A maioria das vítimas é de mulheres e crianças", declarou o médico Sahib Gul, diretor do serviço de emergências do Lady Reading. "Nós enfrentamos uma queda no estoque de sangue. Eu apelo aos cidadãos para que venham doar sangue", disse o doutor Zafar Iqbal. "Estamos em choque. Há pessoas mutiladas, queimadas, corpos, feridos", afirmou outro médico do hospital, Muslim Khan.
As equipes de emergência já alertaram que o número de mortos deve aumentar nas próximas horas, já que os bombeiros ainda trabalham para tentar encontrar sobreviventes nos escombros do mercado.
"Esta é nossa luta também e estamos comprometidos com as forças militares em sua luta corajosa e lado a lado com o povo paquistanês em nossa luta pela paz e a segurança", afirmou Hillary ao condenar o atentado. "Daremos a ajuda que for necessária", completou.
Uma espessa coluna de fumaça foi vista pouco depois da explosão, que aconteceu algumas horas depois do desembarque em Islamabad da secretária de Estado americana. Imagens exibidas por canais de televisão paquistaneses mostravam escombros envoltos em muita fumaça, ao mesmo tempo que a polícia retirava habitantes aterrorizados e os bombeiros tentavam conter as chamas de um princípio de incêndio.
O atentado ainda não foi reivindicado, mas é similar aos ataques organizados pelo Movimento dos Talibãs do Paquistão (TTP), que já mataram mais de 200 pessoas em outubro. Peshawar fica perto das zonas tribais onde os talibãs paquistaneses e os combatentes da rede terrorista Al-Qaeda estão fortemente implantados. A cidade foi cenário de sete ataques nos últimos quatro meses.
A visita de Hillary tem o objetivo de reforçar as relações EUA-Paquistão em um momento de tensão no país. "Queremos reforçar nossas relações. Não queremos que estas se limitem à luta antiterrorista, apesar desta continuar sendo nossa principal prioridade", explicou. O Paquistão, cujas zonas tribais servem de refúgio para os talibãs afegãos aliados da Al-Qaeda, é essencial na estratégia do governo americano de combater o extremismo islâmico.
Ela também abordou a questão nuclear e disse que Washington tem um alto nível de confiança no controle das autoridades paquistanesas sobre seu arsenal. "Mas estamos inquietos a respeito da proliferação e temos boas razões para isto", completou, em uma referência implícita ao pai da bomba atômica paquistanesa, Abdul Qadeer Khan, que caiu em desgraça.
Para o governo americano, Abdul Qadeer Khan, que em 2004 admitiu ter transmitido seus conhecimentos ao Irã, Coreia do Norte e Líbia antes de pedir desculpas, representa um risco de proliferação.
Hillary estimulou o governo paquistanês a participar na conferência sobre a não proliferação de 2010. Também pediu ao Exército paquistanês que leve em consideração a ameaça terrorista nuclear da Al-Qaeda. "Sabemos que a Al-Qaeda e seus aliados extremistas continuam em busca de material nuclear e que não precisam de muito para provocar uma explosão muito grave com consequências políticas e psicológicas terríveis", disse Hillary Clinton. O Paquistão, que se tornou uma potência nuclear de fato em 1998, depois de realizar testes atômicos, não assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
Hillary também defende a nova lei Kerry-Lugar-Berman, que pretende triplicar a ajuda americana ao Paquistão, a 7,5 bilhões de dólares em cinco anos. A lei é polêmica no Paquistão, onde muitos acusam Washington de querer condicionar com as ajudas a soberania do país, argumento que surpreendeu a Casa Branca.
O programa da secretária de Estado no Paquistão inclui ainda encontros com mulheres e estudantes em uma tentativa de melhorar a imagem ruim dos Estados Unidos no país.