Agência France-Presse
postado em 29/10/2009 15:43
O encarregado para a América Latina do Departamento de Estado norte-americano, Thomas Shannon, conseguiu reverter as posições contrárias manifestadas na véspera e fazer com que as comissões de diálogo, em Honduras, aceitassem se reunir novamente nesta quinta-feira para tentar buscar uma solução rápida para a crise política.
[SAIBAMAIS]"Nós nos sentimos muito satisfeitos que a comissão do sr. Manuel Zelaya tenha aceitado retomar o diálogo", declarou Vilma Morales, da delegação do regime de fato de Roberto Micheletti, instalado depois do golpe de Estado de 28 de junho.
Os representantes de Zelaya haviam anunciado na noite de quarta que não se sentariam à mesa se antes não fosse assinada uma ata de restituição no poder.
No entanto, com a intervenção de Shannon, ambas as comissões decidiram se reunir num hotel de Tegucigalpa para tentar resolver o ponto fundamental da discussão: Zelaya exige ser restituído na presidência, o que o governo de fato não aceita de forma alguma.
Antes do início da nova reunião, Shannon afirmou que será difícil para a comunidade internacional reconhecer o resultado das eleições de 29 de novembro sem um acordo entre ambas as partes.
"Por isso estamos aqui, pois acreditamos firmemente que com um acordo Honduras pode usar o apoio da comunidade internacional de uma maneira importante e útil", declarou, ao ser consultado se os Estados Unidos reconheceriam o resultado das eleições marcadas para o fim de novembro.
Nesse sentido, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza, afirmou à AFP que a realização de eleições no dia 29 de novembro não normalizará a situação em Honduras, pois ainda não há condições para a realização do pleito.
"Não há uma situação normal em Honduras e não vai haver, mesmo com eleições", respondeu Insulza ao ser ouvido sobre as condições de realização da votação, defendida pelo governo de fato como solução para a crise.
Segundo o secretário-geral da OEA, Insulza afirmou que as negociações entre o regime de fato e o presidente deposto Manuel Zelaya continuam, e a OEA apoia uma saída negociada.
"Não estamos propondo um caminho incerto, mas um caminho de reconciliação com todas as garantias da comunidade internacional", expressou.
Já o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, declarou que o Brasil - em cuja embaixada Zelaya se encontra refugiado - gostaria que os Estados Unidos desempenhassem um papel mais ativo na crise hondurenha, alertando que, se uma solução política não for alcançada, "a violência na América Central voltará".
Em entrevista publicada nesta quinta-feira no jornal venezuelano El Nacional, Garcia considerou positiva a presença de Thomas Shannon em Tegucigalpa, dizendo esperar que o diplomata seja "porta-voz de uma mensagem forte".
"Isso pode criar as condições para uma solução que passa pela volta ao poder do presidente Manuel Zelaya. Se isto não acontecer, as eleições seriam ilegítimas, e o Brasil não reconhecerá os resultados", destacou.
"Acreditamos que o interlocutor para resolver isto é a OEA, e seria positivo que lá os Estados Unidos tivessem um papel mais ativo. Nossa preocupação é que, se não houver uma solução política, a violência na América Central voltará", acrescentou Garcia.
Sobre os questionamentos feitos a seu governo em relação à permanência de Zelaya na embaixada brasileira, onde se abriga desde 21 de setembro, o assessor de Lula indicou que prefere "essa crítica ao que poderia ter acontecido se tivéssemos fechado as portas para Zelaya".
"Ele é o presidente constitucional. Não tivemos participação em sua volta a Honduras", que aconteceu de maneira clandestina, declarou.