Agência France-Presse
postado em 30/10/2009 12:44
TEGUCIGALPA - O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, declarou-se um "otimista moderado" em relação ao acordo alcançado na véspera com o governante de fato, Roberto Micheletti, que prevê sua restituição no poder se o Congresso assim aprovar, o que porá fim a quatro meses de crise política.
"É um primeiro passo para concretizar minha restituição que terá passar por vários momentos. Eu sou um otimista moderado", declarou o presidente constitucional.
A aceitação por parte de Micheletti do acordo alcançado por suas respectivas comissões negociadoras para pôr fim à crise política original pelo golpe de Estado de 28 de junho desentravou uma negociação complexa que já durava alguns dias. "Amanhã começamos a discutir o cronograma", afirmou Zelaya, acrescentando que seu regresso à Casa Presidencial hondurenha "tem de acontecer muito antes das eleições para poder validá-las", referindo-se à votação marcada para 29 de novembro.
Até que volte ao poder, afirmou que pretende continuar refugiado na embaixada brasileira. "Isso (sua saída) deve ser global e simultâneo, tem que estar estabelecido dentro de uma mecânica que amanhã será discutida", precisou Zelaya. Ele disse confiar que o governo de fato, que até agora sempre negou sua volta ao poder, cumpra com os termos do acordo. "Não é um jogo, onde se pode viver especulando. Honduras pagou uma cota de sofrimento muito grande. Para os hondurenhos houve uma enorme fratura. Uma ruptura da ordem democrática abrupta sempre vai provocar este tipo de cisma na sociedade, mas uma ratificação honrosa vai provocar o contrário, uma reconciliação".
"Devemos estar organizados, pois a luta pela transformação não é trabalho de apenas um dia, e deve ser mantida com um trabalho constante para ter maiores conquistas para a qualidade de nossa democracia", explicou, ao comentar qual seria a lição a tirar desta crise. Segundo Zelaya, o próximo presidente que sair das eleições de novembro deve entender que "uma volta à violência e às armas não pode ser aceita para resolver os problemas políticos".
"A democracia necessita de permanente renovação, de melhorar sua qualidade. É um desafio que temos todos nós hondurenhos", afirmou, depois de agradecer à comunidade internacional, em particular os Estados Unidos, a OEA, a América Central e do Sul e a Europa, "que tanto pressionaram para restabelecer a democracia em Honduras".
Zelaya não está preocupado que o acordo alcançado com Micheletti o deixe com as mãos atadas para governo o período que resta até as eleições. "Eu trabalho sobre princípios, não preciso de instrumentos em minhas mãos. As ideias têm mais forças que os exércitos e nações inteiras", concluiu.